Dívida Pública: Ninguém se entende na geringonça

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EVA CABRAL

O PS consegue desagradar a toda a gente na questão da sustentabilidade da dívida: fez um acordo com os bloquistas enquanto partido, mas o Governo não subscreve as conclusões. Tampouco os comunistas as aceitam. E o PSD e o CDS falam de “encenação”.

Parece a anedota do “fumei mas não inalei”. Foram horas e horas de reuniões e várias versões de um documento sobre a sustentabilidade da dívida portuguesa consensualizado entre o PS e o BE que vieram finalmente à luz do dia, com a particularidade de o Governo de António Costa se recusar a assinar o texto. O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares definiu mesmo o grupo de trabalho sobre a dívida, formado por deputados do PS e do BE, como “credível e qualificado”, mas reiterou que o relatório não vincula o Governo.

“Obviamente que não estamos vinculados enquanto Governo” ao texto, disse Pedro Nuno Santos, que seguiu as palavras do secretário de Estado do Orçamento, João Leão, que havia referido que o Governo tomou “nota” e vai analisar o relatório acordado pelo PS e BE resultante de um grupo de trabalho sobre a sustentabilidade da dívida portuguesa.

Recorde-se que o grupo de trabalho foi criado no âmbito do acordo para a viabilização do Governo minoritário socialista, em Novembro de 2015.

Francisco Louçã, antigo líder do BE, os deputados do PS João Galamba e Paulo Trigo Pereira, o líder da bancada parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, e os economistas Ricardo Cabral e Ricardo Paes Mamede, entre outros, integraram o grupo de trabalho, e são signatários do relatório agora divulgado.

Para justificar a ausência de comprometimento com o relatório, Pedro Nuno Santos repetiu que “o grupo parlamentar do PS é uma coisa, o Governo é outra”. Uma tese bastante obtusa que apenas se explica pelo facto de comunistas e bloquistas defenderem a necessidade de uma renegociação da dívida pública, enquanto o Executivo tem remetido esta questão para o foro europeu.

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