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Na última edição d’O DIABO, uma arreliadora gralha caiu sobre o artigo “A pesada herança” e respectiva chamada de primeira página. Aí se afirmava que o Estado Novo deixara nos cofres do Banco de Portugal 47 toneladas de ouro em reservas – quando, obviamente, queríamos dizer 847 toneladas. Aqui fica a correcção.

A questão do chamado “ouro de Salazar” tem alimentado polémicas apaixonadas, sobretudo depois de a agência Bloomberg ter recentemente classificado a política de poupança-ouro do Estado Novo como “exemplar”, quando comparada com as políticas adoptadas no século XX por outros países do Ocidente.

As fontes não são concordes quanto ao exacto montante em ouro deixado pelo antigo regime: umas referem 818 toneladas, outras 847, outras ainda 866 toneladas, embora todas reconheçam que, como herança da I República, o Estado Novo apenas recebeu cerca de 100 toneladas, tendo ao longo de décadas amealhado oito vezes mais. O certo é que os revolucionários de 25 de Abril de 1974 encontraram os cofres cheios.

O primeiro rombo no tesouro deu-se logo entre 1974 e 1975: ao longo desses dois primeiros anos de loucura, o Governo vendeu 180 toneladas do ouro em reserva. De alienação em alienação (a última das quais em 2006), o “ouro de Salazar” minguou para menos de metade nos últimos 40 anos. Hoje, no Banco de Portugal restam 383 toneladas, que no final do ano passado estavam avaliadas (à cotação então corrente) em quase 14 mil milhões de euros.

Ainda assim, Portugal continua a ser um dos países do mundo com maiores reservas de ouro. Dados recentes do World Gold Council indicavam que o nosso País detém o 15º lugar no ‘top’ mundial de reservas auríferas estatais, à frente (por exemplo) da Arábia Saudita, do Brasil, da Espanha ou do Reino Unido.

De todo o modo, o ouro em depósito no Banco de Portugal não pode, de acordo com a legislação que agora rege a União Monetária Europeia, ser usado para amortizar dívida: as vendas são hoje estritamente controladas pela União e, mesmo quando são autorizadas, o resultado fica obrigatoriamente retido no banco central, em reserva. Se assim não fosse, talvez já não restasse um só grama do que tanto custou a poupar…