Publicado a 26 de Julho de 2016

Donald Trump foi oficialmente nomeado candidato do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos. Tal como fez com o “Brexit”, a imprensa “bem-pensante” já o condenou à derrota, mas as sondagens – que costumam tirar pontos aos candidatos menos “politicamente correctos” – apontam para o contrário. 

“Eu sou a vossa voz” – proclamou Donald Trump no discurso com que aceitou oficialmente ser o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos da América. A imprensa dita de “referência”, bem como incontáveis “especialistas”, não concordam.

A derrota de Trump é dada como absolutamente certa a vários meses do dia 8 de Novembro de 2016, o dia da eleição. No entanto, é impossível não sentir um sentimento de “dejá vu” quando pensamos no referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia. Devido ao ambiente social carregado e anti-democrático imposto pela esquerda, as sondagens têm acumulado erros monumentais em todo o mundo ocidental. No entanto, mesmo analisando-as com o devido cuidado, chegamos à conclusão que ainda não é certo quem será o novo inquilino da Casa Branca. Em três sondagens lançadas a nível nacional no dia 21 deste mês, Clinton vencia uma, Trump vencia a outra, e a terceira dava um empate.

No entanto, mesmo que a precisão das sondagens esteja em causa, a tendência que todas apontam é clara: Donald Trump tem vindo a diminuir a distância em relação à sua adversária.

Há, no entanto, uma questão em que todas as sondagens apresentam o mesmo resultado: a opinião do público americano sobre se o país se encontra “no rumo certo” ou “no rumo errado”. Quase 70 por cento dos americanos consideram que o seu país está em mau estado, e isso pode ser a razão pela qual Trump ainda pode sonhar com a presidência.

Os esquecidos

Apesar de todo o esforço para ridicularizar o candidato republicano, o certo é que quando se analisam as alegações do seu discurso final, é possível aferir que Trump não estava a mentir em muitos dos argumentos mais bombásticos.

“Os rendimentos das famílias desceram mais de 4 mil dólares desde o ano 2000”, afirmou Trump; e o número veio a confirmar-se verdadeiro. Ao contrário do que vem a ser promovido na imprensa portuguesa (numa distorção que já se verificou no processo do Brexit), muitos dos possíveis eleitores de Donald Trump não são racistas, xenófobos, ignorantes – ou qualquer outro derrogatório que um editor inspirado consiga inventar: são homens e mulheres de família que perderam os seus empregos durante décadas de deslocalização de fábricas para países onde a mão-de-obra é semi-escrava, e com os quais o Ocidente mantém relações de comércio livre que apenas parecem favorecer as elites.

Em entrevistas feitas durante a convenção, os jornalistas descobriram que muitos trabalhadores não apoiavam Clinton pois não queriam mais subsídios sociais, ou promessas de subsídios, mas sim empregos. Para milhões de americanos de colarinho azul, depender de subsídios sociais é uma das maiores vergonhas imagináveis, e Trump certamente sabe-o. “O nosso deficit de comércio de bens alcançou o valor mais alto de sempre – quase 800 mil milhões de dólares só num ano”, valor que se confirma, e a partir do qual Trump critica a política de tratados comerciais dos EUA, vários dos quais (incluindo um dos maiores, o NAFTA, North American Free Trade Agreement) foram promovidos e assinados pelo marido de Hillary Clinton durante a sua presidência.

Com estes eleitores, o que fica em causa é a chamada “cintura da ferrugem”. No passado dava-se-lhe o nome de “cintura industrial”; agora usa-se a “ferrugem” para denominar o local onde em tempos enormes fábricas enriqueciam os EUA e os seus trabalhadores. Hoje, milhões de americanos não conseguem arranjar empregos decentemente remunerados por causa da deslocalização de empresas para a China. Vários Estados americanos em que abundam as “cinturas de ferrugem” possuem um poder de voto muito significativo no colégio eleitoral: a Pensilvânia vale 20 votos e o Ohio vale 18, valores extremamente importantes numa corrida competitiva.

Outro aspecto controverso – em que Trump tem a ser vindo incrivelmente comparado a Hitler — é a imigração. No entanto, o que não é geralmente esclarecido, e a revista conservadora “National Review” lembrou aos seus leitores, é que Trump não é contra a imigração, apenas contra a imigração ilegal. Tendo em conta que existe mais de um milhão de imigrantes ilegais a viver nos EUA, muitos com cadastro criminal, vários dirigentes hispânicos, muitos dos quais chegaram aos EUA de forma legal, fizeram já questão de apoiar as medidas de Trump. Uma das propostas “radicais” do candidato é que os empregadores devam contratar trabalhadores residentes nos EUA antes de mandarem vir trabalhadores ilegais à socapa, algo que um grande número de empresas faz…

Pode Trump vencer?

A escolha de Mike Pence, um conservador genuíno, para candidato a Vice-Presidente ajuda Trump a consolidar a base do Partido Republicano à sua volta, dando-lhe a hipótese de expandir o seu eleitorado para áreas onde os democratas têm vindo a vencer, nomeadamente entre a classe trabalhadora. Caso consiga “virar” os Estados onde as sondagens até agora o mostram empatado com Clinton, o candidato republicano poderá arrecadar os votos necessários para ser eleito Presidente dos Estados Unidos. Contudo, tal como durante o Brexit, o triunfalismo antecipado da imprensa pode ser um grave erro.

Hillary Clinton, entretanto, enfrenta graves problemas que não são noticiados em Portugal. A sua idoneidade é discutível devido a várias décadas de escândalos políticos, e foi recentemente comprovado que o próprio partido favoreceu abertamente a sua candidatura em detrimento da de Bernie Sanders, o que levou muitos jovens a anunciar que não irão votar na candidata, preferindo ficar em casa no dia do sufrágio.

As sondagens, tal como durante o Brexit, mais que provavelmente estão inclinadas para o lado dos democratas. A “espiral do silêncio”, um conceito sociológico segundo o qual uma pessoa se coíbe de dar a sua opinião por medo de represálias sociais, é hoje mais forte do que nunca, com a abundância de meios de comunicação, especialmente as redes sociais, onde os activistas de esquerda podem perseguir os seus “inimigos”. Tal como o Brexit apanhou o Mundo desprevenido, também é possível que no dia 8 de Novembro Donald Trump tenha uma surpresa guardada para os seus detractores.