MÁRIO SALSA

Não é possível iludir os estragos sociais trazidos pelo desemprego. Terá de ser maldição que a inteligência e a determinação humana têm de acatar passivamente, ou haverá soluções que o atenuem e, por efeito, acelerem sustentadamente a economia?

Não é possível iludir os estragos sociais trazidos pelo desemprego. Terá de ser maldição que a inteligência e a determinação humana têm de acatar passivamente, ou haverá soluções que o atenuem e, por efeito, acelerem sustentadamente a economia?

O desemprego é das situações mais penosas, mais degradantes e mais temíveis que o homem pode enfrentar. É pelo trabalho que o homem se afirma. É pelo trabalho que ele e a família vivem.

O desemprego que aí está não é um desemprego de passagem. É um desemprego que veio para ficar e para se ampliar constantemente. Tem a sua inevitabilidade no crescimento da máquina: preciosa quando ferramenta, humanamente destruidora quando substituta!

Cada máquina que se cria ou se melhora, são postos de trabalho que irreversivelmente se perdem. Veja-se como tudo foi esvaziado: nos campos; nas fábricas, nos escritórios, nos bancos, na actividade piscatória…

Mas a máquina não veio apenas criar desemprego. Veio alterar profundamente leis da economia que pareciam desafiar os tempos.

Durante séculos, o circuito económico desenvolveu-se numa relação Empresas/Famílias. Às empresas cabia a produção de bens e serviços. Às famílias cabia fornecer às empresas a mão-de-obra necessária a essa produção. Produção e mão-de-obra humana eram interdependentes: o aumento de uma exigia o aumento da outra. O produto era, por sua vez, consumido pelas famílias, que o adquiriam com a renda obtida na cedência às empresas da indispensável mão-de-obra.

Com a substituição da mão-de-obra pela máquina, esta saudável relação é significativamente alterada: entra no mercado de trabalho um factor de produção, tremendamente agressivo para a natureza pelos dejectos irrecicláveis que produz, que não consome o produto; e é afastado da produção um factor que não pode deixar de o consumir, mas que não obtém renda que lhe permita esse consumo, de que resulta que a produção declina, por declínio de consumo.

Logo, inevitável quebra da economia e inevitável agitação social.

A questão que se levanta é a de saber se a tecnologia perdeu a capacidade de continuar a substituir o trabalho humano. A resposta é óbvia: se aqueles a quem os povos entregaram o governo dos seus destinos não forem arrancados à letárgica dormideira em que escolheram governar, o crescimento, o melhoramento e o domínio da máquina são imparáveis.

As consequências serão terríveis!

Há quem acredite que, passada a crise, tudo voltará a ser como já foi. É só aguardar que as grandes empresas surjam e que criem o tão almejado emprego. Já cá estiveram. Foram-se, dizendo-se falidas ou rumando a outros lugares mais promissores, aumentando substancialmente o desemprego e esfrangalhando a economia.

São instituições sem rosto e sem pátria que ora vêm, ora vão, que ora estão, ora se escapam, no seu constante deambular pelo planeta na busca de maiores lucros. Procuram mão-de-obra barata, especializada, produtiva, sem regateio de mais horas de trabalho quando necessário, sem recorrência a greves, ao não trabalho, por dá cá aquela palha, sem a demora da intervenção dos tribunais no dirimir de conflitos de trabalho, e isso é coisa que cá não existe.

E, todavia, a criação de emprego é crucial. Ou se cria emprego, ou se fomenta uma grave crise social. É preciso fazer apelo à inteligência e ao senso. É preciso alterar rumos. É preciso destruir mentalidades negativas, e arregaçar as mangas, porque trabalho há-o, e muito, muitíssimo mesmo, aguardando ansiosamente que o façam.

Onde? Na terra abandonada que o criador nos deu e que, criteriosamente trabalhada e furtada à cultura intensiva, carregada de fertilizantes, de pesticidas e insecticidas, que estão a envenenar os lençóis freáticos, matando a vida e exaurindo a terra (muitas espécie estão a ser extintas ou já se extinguiram mesmo: pirilampos, grilos, ralos, certos pássaros e várias outras.

E os humanos estão irremediavelmente na calha…); na recriação da desaparecida indústria ligeira, trocada pela acumulação de dívida para aquisição ao estrangeiro, cujas fábricas são hoje edifícios abandonados, a desfazerem-se; nos restos que há de floresta, anualmente reduzida a cinzas por preferir-se o folclore dos meios aéreos (de reduzida eficácia, e que sugam milhões) à desmatação, com o aproveitamento do desmatado para a produção de energia ou outros fins; nos recursos da enorme costa marítima tão incipientemente aproveitados.

Com isto, conseguir-se-á substancial diminuição de desemprego, e aumento de produtividade.

Com isto, obter-se-á a coroa da jóia da economia: apreciável redução de bens importados e exportações significativamente melhoradas, o que, com uma gestão financeira que impeça devaneios, permitirá que Portugal trilhe, não apenas o caminho certo, mas o único capaz de permitir honrar a enorme dívida que nos criaram, sair da austeridade e voltar a ser um País de futuro, menos dependente, onde se gostará de viver e capaz de retornar aos cidadãos a confiança perdida.

É mais do que evidente que não sairemos da perna torta se limitarmos as receitas ao empobrecimento dos portugueses, esvaziando-lhes os bolsos com impostos e mais impostos; com a venda de património; com o despedir de funcionários reconhecidamente úteis; com complicadas engenharias financeiras, porque toda essa receita é virtual, e criadora de miséria, embora não se veja que, na incontornável situação de falência, fosse permitido actuar de modo diferente.

É aos governos que cabe encetar campanhas que estimulem os cidadãos à criação de pequenas e médias empresas, da maior importância na criação de trabalho e o mais seguro e rápido esteio no retirar a economia da fragilidade em que se encontra.

É preciso que o génio português seja abanado, espevitado, para que desperte.

É até possível que, então, surjam empresas a querer trabalhar connosco sem exigências exploratórias. É no grande safanão da produtividade, da economia real, que afastaremos a pobreza que nos tortura, esmaga e humilha.

Se isto se fizer, e rápido, o Estado deixará de impor aos seus cidadãos a insultante ociosidade. Será aliviado do pagamento de milhões de euros por injustificados e antinaturais subsídios, a quem pode e deve trabalhar. Deixará de haver famílias a viver do nada, por perda do direito ao subsídios e por perda do direito ao trabalho. Haverá um generalizado melhoramento do nível de vida e um consequente, e desejável, aumento de consumo, sem aumento de dívida.

É isto, caros concidadãos, que tivestes a subida honra de ser chamados à alta governação do País e do seu Povo, que nós, Povo, vos pedimos, encarecidamente, que exerçais com todo o empenho da vossa inteligência, da vossa determinação e da vossa nobreza de carácter.