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Com a entrada em funções de um governo socialista, apoiado por comunistas e trotskistas, toda a estrutura partidária portuguesa se deslocou amplamente para a esquerda, movimento este que, como não podia deixar de ser, provocou um vazio à direita. 

Esta mecânica já tinha sido prevista, em anterior artigo e bem assim o facto de a esquerda chamar direita a sociais-democratas, do PSD, e populares, do CDS. Na verdade, atendendo ao espectro partidário, tal como ele se apresenta, são esses partidos que representam uma direita que, não existindo enquanto instituição, apenas se manifesta pelas posições ideológicas de muitos portugueses dispersos e silenciosos. Dispersos, porque não há uma frente ideológica, clara, simples e ampla que os congregue; silenciosos, porque a propaganda de esquerda, que desde 1974 tem actuado profundamente na mentalidade da população, convenceu muitas pessoas de que ter ideias de direita revela mau carácter, já que só a esquerda é virtuosa.

Aqui, é oportuno lembrar que, durante o PREC, vários crimes foram cometidos ao abrigo da “legitimidade revolucionária”. À longa estigmatização da direita, que torna as convicções hesitantes, junta-se o receio de proscrições, represálias e perseguições, que é o método habitual para a imposição de critérios.

No entanto, há dois factores que podem determinar uma alteração na passividade a que o regime tem conduzido os portugueses. Um, é a degradação das condições socioeconómicas; outro, é o sentimento de insegurança, seja ele devido à instabilidade política ou à incapacidade de o Estado proteger devidamente os cidadãos. Neste aspecto, a própria situação internacional, que actualmente se apresenta extremamente fluida e ameaçadora, torna as populações mais exigentes no quem concerne à segurança.

Quanto aos problemas socioeconómicos, a crítica popular dirige-se, em primeiro lugar, à incapacidade governativa de conter despesa pública e de relançar a economia, ressuscitando o emprego. Depois, são os gastos da classe política, a corrupção, os crimes de “colarinho branco” os focos emergentes de cleptocracia e outras desonestidades em que a III República tem sido fértil. No que respeita à segurança, a esquerda com as suas leis excessivas de garantias, direitos e liberdades, não tem vocação para lidar com a criminalidade, o terrorismo ou qualquer outra ameaça às populações que, por direito, devia proteger. É curiosa a forma como, depois dos ataques terroristas em Paris, Hollande se tentou mostrar decididamente securitário, embora à revelia da sua natureza ideológica, apenas para tentar bloquear o protagonismo da Frente Nacional de Marine Le Pen, cuja aptidão ideológica teria, na circunstância, muito mais legitimidade para uma efectiva acção pedagógica no que respeita às regras políticas que garantam a segurança.

Além disto, o cidadão comum receia a degradação da situação internacional, marcada por múltiplos aspectos. Atente-se à fragmentação política da União Europeia face à invasão de refugiados e imigrantes. Considere-se a defesa militar da Europa, consignada aos EUA, o que a sujeita às consequências do aventureirismo pouco esclarecido de Washington, como agora acontece na guerra civil síria. Observe-se o crescente protagonismo internacional da Federação Russa, com o seu projecto euroasiático. Estes e outros factos constituem uma série de alarmes que, para quem os sabe entender, não preludiam nada de bom.

Desde o final da Segunda Guerra Mundial, a Europa ocidental tem sido conduzida – salvo raras excepções – por uma política de esquerda, virada para a economia e para o bem-estar social mas pouco atenta à segurança. A Europa enriqueceu e a riqueza que acumulou suscita cobiças absolutamente naturais e previsíveis, contra as quais nunca se criou uma protecção efectiva. Neste aspecto, uma participação mais activa de políticas de direita poderiam remediar a grave lacuna na segurança. Provavelmente será isso que acabará por acontecer, não tanto por opções conscientes, mas devido aos mecanismos naturais que regulam as sociedades.

Neste quadro é vital, para os portugueses, a criação de um movimento institucionalizado que congregue e articule uma corrente de opinião verdadeiramente de direita, capaz de exercer o seu papel regenerador e providencial nos tempos conturbados que se avizinham. É preciso que se conjuguem capacidades individuais e colectivas, transversais a toda a sociedade, em ordem à criação de uma consciência límpida e a uma acção consequente, capaz restaurar a ordem na comunidade portuguesa e de mudar o sentido em que Portugal está a ser levado, pela tibieza da esquerda, nacional e europeia, pela tenaz da agiotagem financeira e pelos riscos das confrontações entre superpotências cada vez mais agressivas entre si.

Evidentemente, a efectivação de tal empresa carece de duas componentes principais: a constituição de uma elite aglutinadora e a disposição de fundos que permitam a acção, no âmbito mediático e na divulgação pública. Será que existem condições para que esta necessidade vital se realize?

Ironizando com a actual situação política portuguesa, diga-se que partidos como o PSD e o CDS teriam a ganhar dispondo de um outro partido que lhes permitisse criar as maiorias reais à direita, contraponto da maioria artificial que o PS constituiu à esquerda.