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A descoberta do caminho marítimo para a Índia foi o ponto culminante dos Descobrimentos Portugueses e marcou o início de uma nova era na História universal. Mas o livro “Conquerors. How Portugal seized the Indian Ocean and forged the First Global Empire” apresenta os portugueses como uns terroristas sedentos de sangue.

Já cá faltava. A brigada internacional do politicamente correcto volta a atacar Portugal e o capítulo mais glorioso da nossa História: os Descobrimentos e a Expansão. Desta vez trata-se de um livro com o título pomposo de “Conquerors. How Portugal seized the Indian Ocean and forged the First Global Empire” (“Conquistadores. Como Portugal se apoderou do Oceano Índico e forjou o primeiro Império global”), recentemente editado pela Faber and Faber e assinado pelo britânico Roger Crowley.

9780571290895O problema é que o anacronismo – esse “pecado mortal do historiador”, como dizia Lucien Febvre – começa logo na capa. Para ilustrar uma obra cujo âmbito cronológico vai de 1415 (conquista de Ceuta) a 1515 (morte de Afonso de Albuquerque), a coroa real que encima o escudo tem cinco aros visíveis e barrete púrpura, símbolo que só começou a ser utilizado no reinado de D. João V, no século XVIII. Mas há mais… e pior: o escudo de Portugal está assente numa esfera armilar em campo azul, isto é, as armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, sancionadas por Carta de Lei de 13 de Março de 1816 assinada por D. João VI. Um mero erro de 300 anos! Nada mal para uma obra de história narrativa…

O autor frequentou a Universidade de Cambridge mas não fez carreira como historiador. O seu currículo académico, de acordo com a sua própria página na internet (http://www.rogercrowley.co.uk/roger.htm), resume-se a ter dado aulas de inglês em Istambul, aproveitando para conhecer a cidade e dar passeios pela costa ocidental da Turquia. Crowley dedicou-se depois à “história narrativa” e tem ganho a vida, com algum conforto, graças à escrita de uma “vaga trilogia” (a expressão ‘loose trilogy’ é dele) sobre a história do Mediterrâneo, com um livro sobre a queda de Constantinopla (“Constantinople: The Last Great Siege 1453”); outro sobre os impérios marítimos (“Empires of the Sea”); e um terceiro sobre Veneza (“City of Fortune in Venice”). Agora ampliou o escopo da sua abordagem e decidiu contar, com a ampla liberdade da tal “história narrativa”, a gesta dos portugueses no Atlântico e no Índico.

Durante qase 200 anos, do início do século XV até finais do século XVI, Portugal esteve na vanguarda da História do mundo. A grande aventura da Expansão iniciou-se com a conquista de Ceuta e prosseguiu com a descoberta das ilhas do Oceano Atlântico e com a exploração da costa ocidental de África. O projecto do Infante D. Henrique foi continuado por D. João II, que apontou a Índia como objectivo, atingido já no reinado de D. Manuel I. A viagem de Vasco da Gama até Calecute, onde chegou em 1498, foi o momento mais alto da Expansão ultramarina. A importância da descoberta do caminho marítimo para a Índia pelo navegador português foi tal que o historiador inglês Arnold Toynbee a considerou um marco da História da humanidade: o início da “Era Gâmica”.

Mas, ao contrário do seu compatriota Toynbee – esse sim, um historiador e filósofo de reconhecidos méritos, que investigou e ensinou ao longo de décadas de uma carreira brilhante nas mais prestigiadas universidades, tendo legado à humanidade uma obra de referência da historiografia universal: o monumental “A Study of History”/ “Um Estudo de História” -, Crowley prefere realçar os aspectos mais sensacionalistas da gesta lusa.

Pais periférico, no extremo ocidental de uma Europa voltada para si própria ou envolvida numa guerra secular contra os sarracenos na bacia do Mediterrâneo, Portugal virou-se para o Atlântico e deu “novos mundos ao mundo”. Crowley não pode deixar de reconhecê-lo – mas a tónica vai para uma narrativa sanguinolenta de conquista e esmagamento.

Vasco da Gama e, sobretudo, Afonso de Albuquerque, são apresentados como “zelotas religiosos” – leia-se fanáticos – ambiciosos, gananciosos e cruéis. A demanda do Prestes João, por exemplo, é apresentada como um sinal da ignorância dos portugueses e, apesar de reconhecer a superioridade tecnológica que permitiu a conquista das principais cidades portuárias da Índia e estabelecimento de fortalezas nos locais mais estratégicos do Oceano Índico, de Malaca a Ormuz, a imagem que transparece é sempre a da “brutalidade aterrorizadora” com que passaram ao fio de espada “dezenas de milhar” de muçulmanos inocentes. Daí a comparar os heróis mais ilustres da nossa História a terroristas vai um passo…

Da política integradora de Afonso de Albuquerque, que encorajava os casamentos entre portugueses e habitantes locais, dando origem à civilização goesa, específica no universo da Índia, ou às comunidades cristãs de Malaca, que ainda hoje, passados 500 anos, se orgulham do seu dialecto com raízes portuguesas, não dá destaque esta “história narrativa”.

A conclusão que se tira deste livro é que os portugueses foram… os maus da fita.