As Duas Faces de Janeiro

0
1739
Os perigos de fazer turismo no Mediterrâneo

PAULO FERRERO 

O problema de “As Duas Faces de Janeiro”, que marca a estreia por detrás da câmara do anglo-iraniano Hossein Amini, até agora argumentista de algum sucesso, é ter (parecer) tudo tão bonitinho e perfeitamente alinhado que enjoa.

Rodar-se um filme em locais deslumbrantes, desfrutar-se de um trio de actores de eleição como Viggo Mortensen, Kirsten Dunst e Oscar Isaac, ou de um compositor como Alberto Iglesias (ou será… Bernard Herrmann?), e de um texto-base da autoria de um consagrado como Patricia Highsmith, profusamente adaptada ao cinema, tudo isso pode não ser suficiente para fazer a diferença, e aqui não fez, infelizmente.

Ele há estilo, bom gosto, anos 60, planos muito bons e, claro, cinefilia a rodos para dar e vender, mas falta-lhe qualquer coisa que o resgate do “suficiente +”. Faltou pulso a Amini, enquanto realizador, para atingir o cerne da questão: a profundeza de alma daquelas três personagens envolvidas naquela história de encadeamento de vigarices, devaneios, identidades trocadas, recalcamentos, luta de galos, crime e castigo; tragédia, grega. Ou seja, faltou-lhe o que sobrava a Hitch, por exemplo, quando fez o que fez de uma história similarmente curta e aparentemente simples chamada “O Desconhecido do Norte Expresso”: um marco cinematográfico.

“As Duas Faces de Janeiro” anda, pois, um pouco à deriva, mas é um filme simpático e honesto de aventuras e ‘suspense’, ainda que mero postal, aqui e acolá; por vezes bastante interessante e que não deixa quebrar nem que por instante, a empatia com o espectador, pelo menos com quem gosta de policiais.

Um filme que é levado às costas por Viggo Mortensen, cada vez mais melhor actor, aliás aqui num misto de Mr. Ripley e Hidalgo, ora seja com Isaac ora seja com Dunst.

  • Título original: The Two Faces of January
  • Realização: Hossein Amini
  • Com: Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Oscar Isaac
  • EUA/FRA/GB, 2014, 96 min.
  • Estreia: 30 de Outubro de 2014.