Estado Islâmico, Estado de Terror

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diaboJOÃO VAZ

Este é o terceiro título editado entre nós acerca do fenómeno “Estado Islâmico” (se exceptuarmos os que versam o assunto mas centrando-se nos combatentes “portugueses” daquela entidade). Dos anteriores, de Patrick Cockburn e Nuno Rogeiro, já aqui falamos. Acerca deste podemos dizer que é, indiscutivelmente, o melhor dos três. Sobretudo porque, além da abordagem ao Estado Islâmico, dirige também a sua atenção ao fenómeno do terrorismo islâmico e suas raízes e inclui uma exposição dos momentos-chave do expansionismo muçulmano.

No mais, trata-se de um estudo exaustivo daquilo que é o Estado Islâmico, das suas origens, ramificações, do trabalho efectuado no terreno e que vai desde o arregimentar de combatentes estrangeiros à manipulação de forma eficaz das redes sociais, superando em muito aquilo que já a Al-Qaeda tinha conseguido nesse domínio. Longe vão os tempos em que os discursos dos pregadores e líderes religiosos eram escutados em cassetes por parte de um auditório limitado. Agora, a internet coloca o radicalismo ao alcance de um clique e a palavra do terror consegue o dom da ubiquidade.

Muito relevante, também, é a atenção dada pelos autores ao fenómeno do messianismo apocalíptico que tem passado ao lado de muitos, mas desempenha um papel importante na doutrinação de alguns grupos. Sendo embora predominantemente xiita, o messianismo/milenarismo tem um lugar central na ideologia do Estado Islâmico sendo um dos elementos que está na base da violência gráfica executada pelos militantes do grupo, numa tentativa de levar a uma conflagração mais geral de cariz apocalíptico, algo já visto em seitas e outros grupos religiosos ao longo da História. No fundo, o que temos aqui e é demonstrado claramente pela leitura do presente trabalho, é a importância da religião enquanto motor da história, por muito que custe aos estudiosos de cariz marxizante.

De forma muito breve, o que se pode dizer acerca desta obra é que se trata, até à data, da melhor que se encontra disponível no mercado editorial nacional sendo, para o Estado islâmico, o que “A Torre do Desassossego”, de Lawrence Wright, é para a Al-Qaeda.

Num momento em que políticos incapazes e desonestos mentem despudoradamente aos seus eleitores, dizendo que o Estado Islâmico não o é, aqui fica um guia muito relevante para a compreensão do fenómeno e que oferece ainda pistas para outras investigações mais alargadas acerca da ameaça islâmica em geral.