A História em frases feitas

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DUARTE BRANQUINHO 

“O livro de citações é dos géneros literários mais antigos”, diz-nos o autor de “500 frases que mudaram a nossa História”, de João Ferreira, um livro muito útil que nos recorda frases bem conhecidas, explicando-as e enquadrando-as historicamente, bem como algumas mal atribuídas, desfazendo enganos.

João Ferreira é jornalista e historiador, o que o torna um excelente autor de obras de História divulgativa, como “Histórias Rocambolescas da História de Portugal”, “Histórias Bizarras de um Mundo Absurdo”, ou “Frases Que Fizeram a História de Portugal”, em co-autoria com Ferreira Fernandes.

Este é um género habitualmente menosprezado pelos auto-proclamados “especialistas”, mas o seu sucesso editorial prova que contribui bastante para satisfazer a curiosidade histórica do público em geral.

A História divulgativa baseia-se na investigação académica e é um género fundamentado, que se dirige a um leque mais abrangente de leitores. Como afirmou João Ferreira em entrevista a O DIABO: “Quando estou a preparar estes livros de História divulgativa uso o resultado de muitos trabalhos feitos por investigadores universitários que trazem perspectivas originais sobre a História e que servem de matéria-prima para a divulgação.”

O aspecto mais curioso desta obra é o capítulo “Afinal, quem disse isto?”, dedicado às falsas citações ou frases mal atribuídas.

Dos vários casos, há exemplo de um bem conhecido e português: “Enterrar os mortos e cuidar dos vivos.” A frase é geralmente atribuída ao futuro marquês de Pombal, perante a destruição de Lisboa pelo terramoto de 1 de Novembro de 1755.

No entanto, o autor explica que, quando o rei D. José perguntou ao seu núcleo de conselheiros o que fazer perante tamanha devastação, a resposta – segundo o historiador Veríssimo Serrão – foi-lhe dada, não por Sebastião José de Carvalho e Melo, mas por D. Pedro de Almeida, marquês de Alorna: “Enterrar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos.”

Infelizmente, a obra segue o famigerado Acordo Ortográfico de 1990, algo que apenas a empobrece. Nunca é demais recordar autores e editoras desta má decisão, porque esta é uma questão fundamental que está longe de estar encerrada.

Apesar da ortografia acordizada, este é um livro bem feito e bem organizado, com um índice de todas as citações. Um daqueles volumes aos quais recorremos amiúde, tanto para verificar o que já sabemos normalmente através de lugares-comuns, ao mesmo tempo que obtemos um enquadramento histórico, como descobrir frases marcantes que não conhecíamos ou que atribuíamos ao autor errado.

Porque, como escreveu o brasileiro João Guimarães Rosa, citado no livro, “o homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita”.