“A forma como o Chega actua não permite construir uma solução governativa”

“O Governo do PS não está orientado, nas suas intenções, para resolver os problemas do país” – afirma a O DIABO Nuno Carvalho, deputado do PSD, acrescentando: “A maioria absoluta parece ter subido à cabeça deste Governo e não deixou espaço para que pensassem nos problemas de Portugal”. Mas frisa: “a forma como o Chega actua não permite construir uma solução governativa. Porque é um partido que utiliza as diferenças de opinião como meios de conflito, considera que a força nasce do confronto e não das semelhanças programáticas que dois partidos possam ter. Para um Governo com conflitos internos já basta o que actualmente está em funções”.

0
1858

Como avalia a actual situação política?

É estranho que o maior falhanço do Governo do Partido Socialista seja a maioria absoluta que conquistou. Este Governo, para além de ter todas as condições políticas, também tem os instrumentos financeiros necessários para o difícil contexto económico, que estão incluídos no PRR e nos fundos comunitários até 2027. E com tudo isto o maior falhanço que resulta da política do Partido Socialista é o facto de ter todas as condições para alterar positivamente a vida dos portugueses, mas devido às sucessivas crises abertas pelo próprio Governo parecem tão desgastados, ao ponto de se pensar que os ministros já nem tentam governar. As instituições do país parecem estar a deixar de funcionar.

Esperava que um ano depois de uma maioria absoluta o executivo de António Costa estivesse tão desnorteado?

Não. E não acredito que haja um português que espere, ou deseje, que um Governo esteja numa condição de “anestesia” governativa passado um ano. Eu creio que todos fomos surpreendidos com um Governo cuja espinha dorsal é feita de guerras entre socialistas, negligência governativa e utilização imoral dos meios do Estado. E quando tudo isto ocorre ao mesmo tempo que o rendimento dos portugueses cai a pique, percebemos que o Governo do Partido Socialista não está orientado, nas suas intenções, para resolver os problemas do país. A maioria absoluta parece ter subido a cabeça deste Governo e não deixou espaço para que pensassem nos problemas de Portugal.

Considera que o PS vai conseguir manter o mandato, ou está inclinado para legislativas antecipadas?

Se o Partido Socialista continuar neste rumo, é essencial para o país que possa nascer outra solução governativa, porque o rumo actual não é qualificável como solução. Os problemas do Governo não são os principais problemas do país, a demissão de Marta Temido não é mais importante que o caos que assistimos nos hospitais, a demissão de Pedro Nuno Santos não é mais importante do que a ferrovia e um novo aeroporto que sirva o país. No entanto, António Costa, até agora, tem consumido as suas energias em novas soluções para os problemas que o Governo tem em vez de se concentrar nas soluções que o país precisa. Portanto, o senhor Presidente da República poderá ter que actuar para que o país possa ter um rumo.

Como vê a construção de uma nova AD?

Primeiro é preciso que o PSD construa uma visão para o país que seja radicalmente diferente deste caminho, que mantém os rendimentos dos portugueses esmagados e com os serviços públicos enfraquecidos pela falta de investimento. Depois, qualquer alternativa pode e deve ser liderada pelo PSD, porque será uma liderança que estabelece um caminho para Portugal. Vejo condições em todos os partidos do centro-direita em Portugal para se juntarem a este projecto, menos o partido Chega.

Prefere uma coligação pré-eleitoral, ou uma que saia do resultado eleitoral e seja negociada depois de cada partido saber a sua força política nas urnas?

Considerando o actual cenário de forças partidárias, creio que é mais esclarecedor para os eleitores se cada partido for a votos separadamente.

Considera que o Chega pode ser uma força a integrar um novo Governo liderado pelo PSD?

Não, para além de muitas diferenças de princípio, como afirmou o Presidente do PSD, Luís Montenegro, a forma como o Chega actua não permite construir uma solução governativa. Porque é um partido que utiliza as diferenças de opinião como meios de conflito, considera que a força nasce do confronto e não das semelhanças programáticas que dois partidos possam ter. Para um Governo com conflitos internos já basta o que actualmente está em funções.

Referiu no plenário do Parlamento que o Chega votou, por exemplo, contra o corte de pensões. Como avalia este comportamento?

Não sei se o Chega votou dessa forma porque não leu bem a proposta, ou porque estava de acordo com os argumentos apresentamos pelo Partido Socialista. Mas tenho a certeza de que, qualquer que seja a razão, este voto é contraditório com o discurso do líder do partido. Por isso, um voto no Chega até pode parecer uma forma protesto, mas, tal como este comportamento recente demonstrou, esse voto pode transformar-se numa escolha que só agrava as injustiças no nosso país.

O Presidente da AR anunciou que irá promover uma conferência de líderes por causa do comportamento do Chega. Concorda com essa metodologia?

O principal problema do país é a actual condição desgastada do Governo do Partido Socialista, que não está focado nos problemas de Portugal. As “novelas” que o Partido Socialista gosta de produzir com o Chega também não resolvem qualquer problema do país. Não há utilidade em aplicar metodologias sobre comportamentos do Chega, que são muitas vezes alimentados pelo Partido Socialista desnecessariamente.

Em seu entender quais são as prioridades para um futuro executivo liderado pelo PSD?

O eixo programático principal tem de ser claramente orientado para o aumento do rendimento dos portugueses. Atacar os custos de contexto para que as ineficiências do Estado deixem de retirar riqueza ao país. Erguer uma política de habitação que não deixe de fora os trabalhadores portugueses que não conseguem pagar uma casa e, por muito que existam ajudas do Estado, qualquer casa será sempre cara se o rendimento for baixo. E não permitir que a governação seja “míope” para as necessárias soluções de longo prazo, como a reduzida taxa de natalidade e um sistema de ensino que sirva de “alavanca” para as futuras gerações.

Como avalia a actuação do Presidente da República?

Creio que aparece vezes demais a comentar situações para as quais não teria de o fazer. Esse comportamento diminui a capacidade da magistratura de influência que é necessária num Presidente da República. Na actual circunstância em que o país se encontra será melhor ter um Presidente que actue menos vezes, mas com o maior efeito. Não tenho dúvidas que o senhor Presidente da República tem capacidade para actuar com mais impacto, mas o que espero é que também tenha esta leitura do país e que, consequentemente, queira ter uma actuação diferente.