Escolher colaboradores não é o forte de António Costa

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Passados sete anos de António Costa como primeiro-ministro, parece-me evidente que um dos seus maiores fracassos resulta da incapacidade de escolher colaboradores de qualidade. Os sucessivos casos e casinhos que têm sido o dia-a-dia da governação revelaram uma incompreensível ligeireza na escolha dos colaboradores com que António Costa se rodeou. A realidade tem vindo a demonstrar, pouco a pouco, ministros, secretários de Estado e demais colaboradores que estão não apenas impreparados para as difíceis tarefas da saúde, da educação, da justiça, da economia, mas também com enormes fragilidades de carácter, que os leva sucessivamente a defender objectivos indefensáveis e contrários ao interesse nacional.

Fui durante meio século dirigente no sector industrial, iniciei mais de uma dúzia de novas empresas, que cresceram e se desenvolveram até sermos mais de dois mil homens e mulheres. Hoje tenho a plena consciência de que o nosso sucesso se ficou a dever à extraordinária qualidade dos colaboradores que escolhemos, muitos dos quais me seguiram ao longo de uma vida. Nessa tarefa de escolher pessoas fui muito ajudado pela equipa que fomos construindo, com a convicção de que a qualidade atrai a qualidade, da mesma forma que o inverso é verdadeiro. Qualidade profissional, certamente, mas também a qualidade humana, a seriedade pessoal e a independência intelectual, que evita o seguidismo ao chefe, que é a razão para muita irresponsabilidade pessoal.

É neste contexto que a qualidade individual dos escolhidos conduz à qualidade do trabalho da equipa, mas em que o colectivo não atrofie a iniciativa, a criatividade e a indispensável acção individual. Trata-se, no final do dia, de uma soma de valores positivos, cujo produto final é a estratégia debatida e compreendida por todos. Infelizmente, nada disto existe nos governos de António Costa, em que a maior qualidade dos escolhidos é a fidelidade e a conformidade com os desejos do chefe, para mais desejos descontínuos e sem definição de acordo com o interesse nacional.

Vejamos agora como estas questões estão a afectar no terreno os resultados de algumas actividades governativas:

João Gomes Cravinho – o ministro foi recentemente ao Parlamento para explicar as suas decisões, ou falta delas, no caso das obras do Hospital Militar, um caso óbvio de ligeireza e de incompetência do ministro, que decidiu apresentar-se como Egas Moniz com a corda ao pescoço e ganhar a simpatia dos deputados, em vez de explicar a razão porque o ministério não controlou os gastos, como era a sua obrigação. O resultado final é zero em organização do Estado, com a certeza de que nada ficou resolvido ou sequer melhorou.

Saúde – a escolha da ministra Marta Temido foi um erro tão evidente que foi muito para além da personalidade tendencialmente simpática da senhora. Movida por conceitos ideológicos mal digeridos e por uma imaginação delirante quanto aos resultados, tudo em que a ministra tocou deu asneira e conseguiu o feito de unir todos os profissionais da saúde, com quem aliás não sabia dialogar. O resultado foi o fim das parcerias público/privadas, que tinham sido uma solução com reconhecidos bons resultados, nomeadamente em sede do Tribunal de Contas, além, porventura, de alguns milhares de mortos antes de tempo. A lenda dos bons resultados da pandemia não pode durar para sempre e talvez que um dia se possa apurar o que realmente se passou em centenas de lares em que os idosos foram abandonados à sua sorte.

Educação – neste caso não se pode dizer que nos diversos governos de António Costa tenha havido escolhidos para governar a educação. De facto, a educação foi abandonada, os profissionais foram esquecidos e deixou de haver uma qualquer ideia de como resolver os problemas que foram crescendo. A questão da nomeação de professores para centenas de quilómetros de distância é tão absurda que deveria ser crime. A incapacidade de resolver a questão do tempo de serviço dos professores nunca foi uma questão financeira, mas de iniciativa e de bom senso. Assisti ontem no programa da SIC, “Expresso da Meia Noite”, em directo, a um deputado do PS, de seu nome Porfírio Silva, que usou uma agressividade totalmente absurda, aos berros e sem deixar ninguém mais falar, no que foi uma demonstração ao vivo de como o PS vê a negociação com os professores. Lamento que ninguém dos outros presentes tenha chamado a atenção dos espectadores para o facto de que tinham ali em directo o exemplo da incapacidade do PS em perceber o que se passa e de saber negociar.

Ferrovia – sabemos que a democracia portuguesa abandonou durante 50 anos os caminhos de ferro, mas António Costa nomeou dois ministros que transformaram um problema difícil numa solução impossível. Ambos descobriram que o objectivo nacional seria evitar a entrada dos comboios estrangeiros em Portugal, evitando assim a concorrência através da existência de monopólios nacionais e, para isso, nada melhor do que manter a bitola ibérica. Aparentemente, ambos os ministros acreditam que no século XXI, na União Europeia e no Ocidente, será virtuoso tornar Portugal uma espécie de Albânia, ou de Cuba, ou de Venezuela e com os mesmos resultados. No processo ambos parecem acreditar que os governos espanhóis, que andam há trinta anos a gastar centenas de milhares de milhões de euros na mudança da bitola, são obviamente estúpidos e que a União Europeia que paga mais de metade da conta, ensandeceu. A nomeação destas duas raridades para o ministério das Infra-estruturas, espero, seja um dia objectivo de estudo. 

TAP e aeroportos – estes mesmos nomeados de António Costa acrescentaram ao seu currículo o desastre da nacionalização da TAP, que justificaram em altos berros com a afirmação da superioridade da gestão pública. Investiram tempo e dinheiro dos contribuintes nesse objectivo para, pouco tempo passado, decidirem privatizar novamente a empresa. Chama-se a isto voltar ao lugar do crime, mas sempre sem qualquer responsabilidade, sendo que um deles, Pedro Nuno Santos, vai estar semanalmente na SIC a fazer a cabeça dos portugueses, com ideias tão brilhantes como seja a do proteccionismo económico.

Volto ao ponto de partida, os governos, como as empresas, são organizações formadas por homens e mulheres escolhidos pelos seus méritos, sendo que apenas os resultados mostram o acerto das escolhas feitas. Ora, a julgar pela pobreza dos resultados dos últimos sete anos em que Portugal empobreceu e se afastou dos outros povos da União Europeia, bem como pelos casos e casinhos que enchem as páginas dos jornais portugueses, a mostrar a ferocidade dos escolhidos no ataque à gamela do Estado, somos forçados a concluir que António Costa pode ter muitas qualidades, mas que a escolha dos seus colaboradores não é certamente uma delas.