Propaganda a pacote

“O Dr. Costa, no seu ardente desejo de combate à inflação, entendeu convencer os portugueses de que injectar temporariamente liquidez representa a grande solução milagrosa, dando assim uma lição de economia de bolso completamente inédita e abarrotando a carteira já com traças do português comum com 125€ pagos de uma só vez em Outubro, assumindo o risco de os estragar com tanto mimo”

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Na semana em que são anunciadas as novas medidas de apoio às famílias, numa alarvidade de benesses, truques de ilusionismo e uma espécie de “enchemos-lhes um bolso agora que já lhes esvaziámos o outro”, nada consta para já no que respeita ao sector empresarial privado.

Apesar de o sector público assegurar em larga escala os vencimentos de grande parte da população activa, representando o maior empregador destes seus súbditos de lealdade canina ao nosso Fidel Primeiro, o Governo tem feito bastante por se esquecer do facto de o sector empresarial privado ser o amparo providencial de grande parte das famílias, suas enteadas, que daquele dependem para sobreviver, estando perigosamente próximas do limiar da miséria.

Liquidando as empresas sobreviventes aos dois últimos fatídicos anos como consequência da gestão ruinosa de uma pandemia e mais recentemente a pretexto da invasão da Ucrânia, com o arrastar da espera pelos necessários apoios extermina-se deste modo e com distinção a dignidade que subsiste a grande custo, condenando à forca a miserável fatia de população que ainda não optou pelo rendimento social de inserção em alternativa ao duro fardo que é ter de trabalhar e produzir, conceito estranho ao actual Governo e coisa rara no Portugal de hoje, que estende a mão para recolher esmolas, convencido de que o generoso acto de caridade provém de um enorme saco sem fundo, e condenando com isto as gerações vindouras à miséria, já não só de espírito, característico do moderno e conformado pedinte, mas literal e objectivamente falando.

O Dr. Costa, no seu ardente desejo de combate à inflação, entendeu convencer os portugueses de que injectar temporariamente liquidez representa a grande solução milagrosa, dando assim uma lição de economia de bolso completamente inédita e abarrotando a carteira já com traças do português comum com 125€ pagos de uma só vez em Outubro, assumindo o risco de os estragar com tanto mimo.

Opto desde já por nem abordar aqui a medida anunciada quanto à diminuição do IVA para os primeiros 100Kw na factura de electricidade, por respeito às grandes expectativas da maioria, que conseguirá beber um café ao balcão por mês com o ganho imediato implicado (leia-se apenas um café por família, nada de abusos).

Mexer nas retenções na fonte não é solução.

Diminuir a incidência no IRS muito menos.

Baixar o IVA nem é assunto.

Atenuar substancialmente os impostos sobre os combustíveis seria para rir, pois emagrecer as receitas do Estado é o mesmo que alargar a corda com que a pulso vão tocando a manada que, feliz e contente, rejubila em delírio com uns trocos a mais para suportar os encargos mensais do mês que antecede o dos fiéis defuntos.

Não conseguiria encontrar melhor ironia nesta feliz coincidência.

Aumentar as reformas dos pensionistas à razão da inflação seria um perfeito disparate. Em alternativa, presenteamos esta malta com uma fantástica redução para cerca de metade dos aumentos legais previstos, mas acenamos-lhe com um MBWay de 50% da miséria a que tem mensalmente direito (de uma só vez, claro está) e daqui a uns anos, se ainda cá estiverem, voltamos a pegar no assunto numa segunda-feira qualquer… ou talvez não, porque estando o nosso país a rejuvenescer, devemos antes concentrar esforços no tão bem acolhido RSI à prole que já vai dando sinais de puberdade precoce.

Em mais um Grande Show de marketing e propaganda enganosa ao bom e velho jeito socialista, Costa e os seus fiéis escudeiros conseguem com mais um truque de ilusionismo abrir noticiários e encher capas de jornais, entretendo a plebe com pão e circo, onde manobras manhosas de contorcionismo financeiro são anunciadas e o tom providencial com que o Maestro de um roubo sem precedentes se dirige à nação, prolongam o transe e a submissão dos seu orgulhosos crentes que aceitam a esmola num acto de contrição e se ajoelham ao Pai, ora beijando ora lambendo-lhe a mão, tal é o tamanho da sua devoção.

O Pai misericordioso prepara ainda assim o seu adorado povo para a inevitabilidade do fim da abundância. Pede cautela nos gastos.

Ora num país onde a abundância impera, tendo em conta que 75% dos cidadãos activos auferem menos de 1.000€ mensais, vale-nos agora a imensa capacidade de aforro que seguramente nos salvará desta inesperada escassez que o supremo Profeta agora anuncia. Isso, e mais 125 de euros de gorjeta pagos de uma só vez. Não merecíamos tanto.

Bem haja, António Costa…  É com uma enorme satisfação que reconhecemos a bênção que nos trouxe esta maioria absoluta. ■