O jornal que está nas bancas, caro leitor, é o número 2000 de O DIABO. Duas mil edições desde que, a 10 de Fevereiro de 1976, Vera Lagoa realizou o sonho de lançar um semanário livre e independente, sempre com uma palavra a dizer sobre o que se passava em Portugal e no Mundo.
Quando O DIABO surgiu pela primeira vez nas bancas, na manhã de 10 de Fevereiro de 1976, poucos políticos portugueses lhe auguraram mais do que uns meses de vida. Desconheciam ainda a força, a coragem e a persistência da mulher indomável que o fundara: Vera Lagoa. Muitos terão pensado que seria sol de pouca dura – e que acabaria, como muitos outros títulos jornalísticos da época, devorado pela revolução e esquecido pelos leitores.
Como se enganaram!
O DIABO, nascido escassos três meses depois do contra-golpe de 25 de Novembro que oficialmente pôs fim ao PREC, continua hoje a ser tão necessário como então. Quando O DIABO apareceu, o famigerado “Processo Revolucionário em Curso” tinha metido a viola no saco e a “revolução” prometia encolher as garras. Formalmente, Portugal regressara à democracia representativa e – juravam os políticos da época – tudo ia reentrar nos eixos.
Mas Maria Armanda Falcão, a jornalista de apurado instinto cívico que vivia sob o “nome de guerra” de Vera Lagoa, sabia que não seria assim. Os comunistas escondiam as garras, sim, mas apenas aguardando o momento em que pudessem de novo lançar-se no assalto ao poder. A rua continuava entregue aos bandos extremistas que haviam infernizado a vida dos portugueses desde o golpe de 25 de Abril.
No governo instalavam- se os socialistas, prisioneiros de complexos e remorsos de esquerda, prontos para todas as cedências e vulneráveis a todas as tentações. A Constituição mantinha-se marxista, orgulhando-se do derrube daquilo a que ainda se chamava “o regime fascista” e obrigando o País a seguir o “caminho para uma sociedade socialista”, “uma sociedade sem classes”.
E sobre tudo mandava a tropa – não já as Forças Armadas que ao longo de treze anos se haviam empenhado com honra na defesa da integridade do território nacional, mas uma clique de capitães e majores subitamente promovidos a donos estrelados dos destinos de Portugal. A Imprensa, essa, começava a acomodar-se.
Os excessos revolucionários que haviam suscitado, ao longo do PREC, a oposição de jornais como o ‘Expresso’, o ‘Jornal Novo’ ou o ‘Tempo’ pareciam agora tema do passado; os principais títulos rendiam- -se ao sistema e preparavam-se para negociar com ele a paz podre de um País depauperado e sem rumo. Quem, perante o charco da pusilanimidade e da corrupção que se instalava, teria coragem para atirar a primeira pedra?
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