Assis Chateaubriand, o “Rei do Brasil”

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O tempo passa e alguns homens que marcaram o passado de maneira relevante não conseguem sair de cena, tal as suas trajectórias de vida empresarial, pessoal e pública. Assim é o brasileiro Assis Chateaubriand, um dos grandes dos “media” mundiais em seu tempo, pioneiro na televisão no Brasil, que chegou a ter 30 jornais diários, 51 emissoras de rádio e uma revista que vendia, nos anos 50 e 60, perto de um milhão de exemplares por semana.

Este visionário foi senador, embaixador no Reino Unido, membro da Academia Brasileira de Letras e aventurava-se na indústria farmacêutica com dois laboratórios com presença no mercado nacional e como produtor rural.

Grande amante das artes, foi o fundador e principal angariador do acervo do Museu de Arte de São Paulo, que se chama hoje Assis Chateaubriand. Primeiro, fez a sede no edifício dos Diários Associados e, depois, obteve do prefeito Adhemar de Barros o terreno onde está a sede na Avenida Paulista, uma referência da cidade.

O genial brasileiro, que amava Portugal – assim como o seu principal jornalista, David Nasser, um dos grandes de sua época –, foi o promotor de campanhas pela aviação e pela criança. Em 64, quando os militares assumiram o governo, face à grave crise política e económica, lançou já doente a campanha Ouro para o Bem do Brasil, em que milhares de pessoas doaram anéis, pulseiras e outros artigos com ouro para ajudar na recuperação do país.

Com vida pessoal complicada, três filhos de três mulheres diferentes, criou um condomínio de acções e legou as empresas jornalísticas aos empregados mais chegados. Meio século depois da sua morte são poucos os jornais e rádios do grupo, que mantém apenas dois canais de televisão, de um conjunto que foi de 22. Os melhores jornalistas do Brasil no século passado tiveram uma passagem na rede “Associados”.

Roberto Marinho, que foi um empresário mais competente, passou a vida dedicado às empresas, sem prejuízo de compromisso democrático e com o país, que o levou a apoiar do início ao fim o período militar. Mas teve pouco ou nenhum envolvimento na política e em outras actividades estranhas aos “media” que possuía. Cresceu com endividamento zero, excepto no período em que teve de comprar a participação na Rede Globo aos americanos do “Time-Life”. Pagou em poucos anos.

Já Chateaubriand foi diferente. Todas as teses defendidas hoje pelos economistas e pensadores modernos em relação à importância do capitalismo social, globalizado, sem preconceitos, foram a sua bandeira de toda vida.

Admirador de Salazar, escreveu que “a base da ordem interna de uma Nação reside na sua ordem financeira”. E chamado a opinar sobre quais os três maiores problemas do Brasil, respondeu que eram: em primeiro, a educação; em segundo, a educação; e, em terceiro, a educação.

Foram mais de 12 mil artigos em pouco mais de meio século. Nem o AVC, que o deixou imobilizado, interrompeu sua actuação. Um académico, ao visitá-lo já doente, exclamou: “o edifício pegou fogo e a biblioteca ficou intacta”. Escreveu até morrer.

Um dos grandes sucessos editoriais do Brasil, nos anos 90, foi a biografia escrita por Fernando Morais, “Chatô, o Rei do Brasil”. Realmente, sem ser Rei, ele mandou muito.

Um homem deste não pode ser esquecido!