A arrogância britânica e um ‘Brexit’ pouco provável

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JOÃO FILIPE PEREIRA

23 de Junho. É esta a data escolhida para os britânicos decidirem a sua continuidade ou não no seio da União Europeia (UE). Finalmente! Este jogo do “eu-não-gosto-de-vocês-e-é-um-favor-eu-continuar-a-seguir-as-vossas-regras” tem que acabar. A prepotência tem limites e a britânica não favorece ninguém.

Regressado de Bruxelas, onde obteve acordo dos parceiros a novas isenções para o Reino Unido, o primeiro-ministro britânico marcou de imediato o – há muito prometido – referendo. A Grécia fez um referendo e foi penalizada. O Reino Unido ainda não o fez e já foi beneficiado em Bruxelas, onde pessoas que nós não conhecemos e muitas que nem elegemos já andaram com paninhos quentes. Hipocrisia ou será a lei do mais forte?

Ingleses, escoceses, norte-irlandeses e galeses têm que decidir de uma vez o que querem. De um lado está o medo do terrorismo e da imigração em massa. Do outro uma série de pesos pesados que creio que irão pesar forte na balança e que passarei a explicar.

O medo do comunismo. Os britânicos têm medo que o Kremlin aproveite um vazio de poder para lançar os tentáculos sobre a Europa. Cameron irá fazer o jogo do mal menor. Sendo que ter a Rússia à porta da ilha seria, sem dúvida, o mal maior para os ingleses.

Perda massificada de dinheiro. No início do ano, o Banco da Inglaterra enviou acidentalmente (acredite quem quiser!) um ‘e-mail’ para o jornal “The Guardian” revelando que tinham estudado com grande rigor os riscos de sair da UE. As previsões não foram, financeiramente, nada agradáveis.

Saída generalizada de empresas. A Bertelsmann Foundation fez um estudo de mercado que revelou que um terço das empresas britânicas e alemãs podem deixar o Reino Unido após um ‘Brexit’, com ênfase particular no sector de IT e tecnologia. Aliás, como já aqui escrevi, Dublin é de facto a capital da tecnologia. Um ‘Brexit’ poderá oficializar essa realidade.

Voos mais caros. Se até agora viver no Reino Unido é uma espécie de paraíso para quem gosta de viajar, com a saída britânica da União Europeia o preço dos voos irá crescer substancialmente. Ou seja, torna-se mais caro a deslocação de pessoas, mas também de bens e mercadorias. Sim, a Grã-Bretanha é uma ilha… Eles não se esquecem disso.

O terrorismo. A faca de dois gumes da discussão. Se por um lado – num cenário de Brexit – a dificuldade em entrar no Reino Unido é vista como uma protecção ao terrorismo, por outro, o fim da cooperação das autoridades europeias com as britânicas coloca em causa o actual sistema britânico. Se o Reino Unido deixa a UE, o acordo que permite a Grã-Bretanha verificar passaportes em Calais (em França), em vez de Dover (Inglaterra) poderia ficar sem efeito, criando verdadeiras selvas em território inglês.

Prevejo dias difíceis por terras de Sua Majestade. Voltaremos a ver o surgir dos bandos anti-imigração a atacar ferozmente (com vernáculos e a aprimorada assertividade britânica) nos transportes públicos e nas ruas.

Pode ser que até Junho, e com as emoções do Campeonato da Europa de Futebol, os britânicos se acalmem um pouco e pensem com ponderação sobre o que realmente querem.