O zelota, perdão, o ninja-justiceiro (qual infiltrado do título em português, qual carapuça) do novel filme do canadiano Denis Villeneuve, não mata nem tortura o próximo com o propósito de expulsar os romanos da Judeia, mas antes de repor o equilíbrio de forças nos cartéis da droga e, já agora, por uma questão pessoal, “por se acaso”.
Em “Sicário”, as migrações ilegais transfronteiriças entre o México e os EUA e o enredo policial CIA-FBI-cartéis que nasce a partir da portentosa sequência inicial do resgate à bruta- feito com tremendo impacto visual (ah, grande Roger Deakins!) e sonoro (e que grande banda sonora, a do islandês Jóhann Jóhannsson), e sem aviso prévio ao espectador, que fica logo ali sem fôlego -, servem apenas de enfeite a um poderoso e violentíssimo filme de acção (a gerência agradece), que é disso que se trata, resumindo e concatenando.
Longe vão os filmes imberbes sobre o tema, como “Fronteira Sangrenta” (1980), por exemplo, com o grande Bronson então como protagonista, mas já muito mais recentes na memória colectiva estão o filme “Traffic”, de Soderberh, e a prodigiosa série televisiva «A Ponte», só para referir os marcos mais evidentes.
Por isso, em “Sicário” todo o cuidado é pouco para não perder com a concorrência e não perde, até porque se a inglesa Emily Blunt não é a alemã Diane Kruger mas para lá caminha, temos El Paso, Juárez, a fronteira, o deserto, os túneis, os corruptos, as execuções sumárias à narcotraficante, e por aí fora, tudo revisto mas em ‘up-grade’.
E se Josh Brolin não anda ali a fazer praticamente nada, e não anda, passeando no filme num tom à Wayne ou à Marvin, quem faz faísca com a esquálida Blunt em cada cena em que contracenam, é não o detective Ruiz da série já referida, mas o porto-riquenho mais justamente famoso de Hollywood: Benecio Del Toro, que aqui regressa às suas interpretações de encher o olho – por sinal ele não arranca olhos, antes prefere enfiar em terceiros os dedos narinas acima e ouvidos adentro!
Que viva México!