Tempos de terror na Europa

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O ano de 2016 terminou com o espectro sombrio do terror sobre as cabeças dos povos europeus. Desde os anos 70, quando os movimentos comunistas espalhavam a lei da bala e da bomba, que a velha Europa não via tanta carnificina nas suas ruas.

A narrativa repete-se: cidadãos inocentes são abatidos pelos mensageiros do terror nas ruas da Europa, supostamente pacíficas. O ano de 2016 concluiu com doze europeus a perder a vida quando cometiam o “crime anti-islâmico” de visitar um mercado de Natal.

Os últimos dois anos ficam marcados como os mais sangrentos das últimas quatro décadas. Apesar de alguns momentos de extrema violência, como o ataque bombista em Madrid em 2004, ou o assassinato em massa de inocentes perpetrado por Anders Breivik, um movimento de terror concertado não existia na Europa desde que os comunistas lançaram uma campanha de destabilização das democracias ocidentais durante os anos 70.

De facto, entre o episódio do ataque terrorista em Londres, que vitimou 56 inocentes, e os massacres na Noruega, existe um intervalo temporal de seis anos. Se apenas considerarmos os momentos de terrorismo islâmico em grande escala, a Europa esteve quase dez anos a salvo. Estes números, no entanto, não contam a história real.

O caminho para a actual carnificina há vários anos que está em construção, e uma análise aos dados indica que os terroristas, face ao poderoso aparelho anti-terror montado após os ataques de Londres e Madrid, simplesmente se foram adaptando enquanto esperavam por novos recrutas.

Apesar de não se terem registado grandes ataques terroristas perpetrados pelo radicalismo islâmico durante dez anos, foram-se repetindo pequenos ataques, quase sempre ignorados pelo público devido à sua pequena efectividade. Em 2007, por exemplo, rebentou uma bomba improvisada na Bélgica que matou uma pessoa. Na Suécia, em 2010, um bombista suicida “apenas” se consegue rebentar a si mesmo, mas a tentativa existiu. Na Alemanha, em Março de 2011, um indivíduo radicalizado abateu dois oficiais dos Estados Unidos no aeroporto de Frankfurt. Em Março de 2012, Mohammed Merah assassinou a tiro dois soldados franceses, um rabino judeu e três crianças, uma com oito anos, outra com seis e outra com três anos. Em Julho de 2012, um bombista suicida do Hezbollah matou sete inocentes no aeroporto de Burgas, na Bulgária. Em Maio de 2013 Lee Rigby, um soldado inglês, foi brutalmente assassinado nas ruas de Woolwich por dois radicais islâmicos.

O primeiro ataque em solo europeu identificado como estando inequivocamente ligado ao Estado Islâmico, só aconteceu em Maio de 2014, quando um terrorista massacrou quatro inocentes no Museu dos Judeus da Bélgica.

Olhando para estas datas, compreendemos que a campanha de terror islâmico há vários anos se encontrava presente, mas com um impacto reduzido, em comparação com os últimos dois anos. Somente quando os terroristas atacaram o jornal “Charlie Hebdo” é que o mundo virou as suas atenções para este fenómeno, para o qual as autoridades e os especialistas há muito vinham alertando. Estávamos no dia sete de Janeiro de 2015, e já se iniciara a contagem decrescente para o gravíssimo atentado de Paris de 13 de Novembro, em que 137 inocentes morreram. Desde então, a campanha de destabilização nunca mais parou, culminando em 2016, mais um ano de terror.

Uma das grandes mudanças face a 2015, ano de vários ataques de grande dimensão, foi a frequência com que os “pequenos” ataques foram sendo feitos. Antes do ataque ao Aeroporto de Bruxelas, que matou 35 pessoas, houve uma série de esfaqueamentos nos transportes públicos franceses e alemães, que não resultaram em mortos.

A radicalização entre os imigrantes mais jovens e os descendentes de imigrantes, no entanto, já era visível. Um dos esfaqueamentos foi feito por uma jovem de 15 anos que tinha tentado juntar-se ao Estado Islâmico, mas foi impedida de viajar pela sua mãe. Em Essen, em Abril, dois adolescentes radicalizados atiraram uma bomba a um casamento, atentado que apenas não resultou em mortos por mero acaso.

Mas pouco depois, em França, Larossi Abballa, de 25 anos, assassinou um comandante de polícia e a sua mulher à facada. Abballa já tinha sido preso por recrutar terroristas em 2011, e entretanto os tribunais tinham-no soltado. Em 2016 voltou a atacar. Pouco depois, em Julho, Mohamed Bouhlel assassinou 86 inocentes na cidade de Nice, atropelando-as com um camião enquanto a multidão distraída via os fogos de artifício do dia da Bastilha. Apenas quatro dias depois, um refugiado afegão de 17 anos feriu 5 pessoas com um machado num comboio alemão. Dez dias depois, um refugiado sírio tentou perpetrar um atentado suicida que “apenas” feriu 12 pessoas. O pedido de asilo do sírio tinha, na verdade, sido rejeitado pelas autoridades, mas foi-lhe permitido permanecer na Alemanha devido a problemas psiquiátricos, para os quais estaria a ser tratado. Doze dias após a carnificina de Nice, dois terroristas entraram numa igreja na Normandia e executaram o Padre Jacques Hamel. A senda de esfaqueamentos continuou durante o resto do ano na Bélgica, em Itália e na Alemanha.

Todos estes actos de terror, com mais impacto ou com menos impacto, reforçam a instabilidade social e política que se vive na Europa. As agências de informação e segurança europeias têm conhecimento de que existem redes terroristas bem organizadas às quais estão a tentar dar caça. Muitas destas redes também se estão a apropriar de jovens com mentalidades mais débeis para continuarem a sua campanha de terror, algo que o elevado desemprego entre a juventude e a falta de oportunidades na Europa não estão a ajudar a dissuadir. É também considerado consensual que a entrada em massa de refugiados que se vive desde 2015, concorde-se ou não politicamente com ela, abriu uma grande falha de segurança na Europa pela escala do fenómeno: há muito tempo que a Europa não enfrentava ondas tão numerosas e densas de indivíduos pedindo asilo.

No entanto, a vigilância de perigos internos, incluindo a radicalização e recrutamento de cidadãos nascidos na Europa, também tem vindo a fracassar. Em Novembro, por exemplo, as autoridades alemãs detiveram um agente da “Verfassungsschutz”, o serviço secreto alemão, que se tinha radicalizado e estaria a fornecer informação aos restantes terroristas islâmicos. Novamente, algo que não é uma novidade, visto que os serviços secretos ocidentais foram repetidamente infiltrados pelas células terroristas comunistas durante os anos 70. O indivíduo tinha sido transferido para a “Verfassungsschutz” em Abril do ano passado, e ainda não se sabe quanta informação passou aos seus colegas de terror.

Este episódio sublinha as dificuldades que as forças de segurança europeias enfrentam face às indecisões dos políticos e à imobilidade burocrática. O suspeito do recente atentado de Berlim, por exemplo, era um membro conhecido da rede extremista “A Verdadeira Religião”, encontrava-se numa lista de vigilância, já tinha sido previamente estado na prisão, em Itália, durante cinco anos, e existiam ordens para ter sido deportado há vários meses da Alemanha.

Os mercados de Natal também seriam um alvo, segundo as agências de informação. Um jovem alemão de origem iraquiana já tinha sido detido em Novembro em posse de explosivos, que o mesmo confessou ter planeado usar no ataque a um mercado de Natal. O terrorista de Berlim conseguiu, no entanto, organizar e realizar o seu ataque sem ser detido ou questionado uma única vez.

2016 terminou, assim, com mais um ataque terrorista, um de muitos que marcaram o ano. 2017 promete ser mais um ano de terror no velho continente.