A História Oculta da Música

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Se para Nietzsche a vida sem a música seria um erro, Emil Cioran foi ainda mais longe, afirmando que a única música verdadeira é aquela que nos permite apalpar o próprio tempo. Já nós, diríamos mais. A música autêntica é aquela que nos leva para lá das fronteiras do tempo e do espaço, colocando-nos num profundo alinhamento cósmico. Um meio para penetrar num território de insondáveis mistérios, situados bem para lá dos próprios sentidos. A música, enquanto forma de arte, apoia-se, na sua origem, na poética análoga à força geratriz do mito. Desse modo, quando pensamos na génese da civilização europeia, a música apresenta-se intimamente ligada a uma ideia de origem mítica. Talvez por isso a música seja a forma de arte para a qual somos mais cedo estimulados, não raras vezes, ainda dentro do ventre materno. 

Luis Antonio Muñoz, compositor, cantor, músico multi-instrumentista, maestro e radialista, tem desenvolvido um interessante trabalho no campo da investigação, nomeadamente nas áreas de História da Música e Etnomusicologia. No seu livro “A História Oculta da Música”, editado por A Esfera dos Livros (brochado, 280 páginas, 19,90 euros), o autor procurou escrever uma breve introdução a um mundo de infinitas curiosidades que relacionam a música com o ocultismo e o esoterismo. Um apanhado de factos e acontecimentos que, inicialmente, parecem relacionados com a designada “petite histoire”, mas cujo aprofundamento nos revela uma outra realidade, porventura bem mais densa e complexa.      

“A História Oculta da Música” reúne e divulga de forma acessível uma série de curiosidades históricas que relacionam a música, músicos e compositores com correntes esotéricas ou fenómenos ocultistas como a magia, sociedades secretas, entre outros. Este livro inicia-se com uma introdução onde podemos inteirar-nos da “origem mágica da música” e do seu desenvolvimento entre a Pré-História e as “maravilhas” da Civilização. Da Mesopotâmia ao Egipto, passando pela harmonia das esferas da tradição grega, o contributo romano, a beleza da liturgia cristã, dos trovadores ou dos heréticos gnósticos e cátaros, até aos sons associados às novas teorias da Física contemporânea, o espaço temporal analisado nesta obra é notável. 

O livro estrutura-se em três partes. Uma primeira dedicada à música, seitas e sociedades secretas; outra dedicada aos espíritos e demónios na música; e, por fim, uma parte dedicada aos números ocultos. Luis Antonio Muñoz realça neste trabalho a relação do fenómeno musical com alguns nomes e personalidades históricas. Umas directamente ligadas à música conforme são os casos de Bach, Mozart, Beethoven, Erik Satie, Claude Debussy, Wagner, Schönberg Beatles, Rolling Stones, Led Zeppelin, Kiss, Iron Maiden, ou W.A.S.P.; assim como algumas, menos óbvias, tais como Leonardo Da Vinci, Robert Fludd, Adolf Hitler, Aleister Crowley, entre outros. 

Trata-se de um livro apaixonante, cuja leitura poderá ser acompanhada por uma selecção musical disponibilizada via YouTube. Esta obra de Luis Antonio Muñoz abrirá, certamente, o interesse de muitos leitores para um plano menos conhecido do mundo da música. ■