Entrevista à revista Defesa e Cidadania (II)

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Já teve a oportunidade de escrever que «é no seio de uma mesma comunidade linguístico-cultural que há real solidariedade, tanto a nível interno como externo. É desde logo por isso que, não obstante toda a retórica político-mediática, ninguém está realmente disposto a sacrificar-se pela Ucrânia.». Esta ideia não podia estar mais actual. Podemos ver, nesta perspectiva, a importância do factor «bloco geopolínguístico» na re-organização geopolítica e geoestratégica do sistema internacional actual?

Sim, foi precisamente essa a tese que desenvolvemos numa recente sessão da Academia Internacional da Cultura Portuguesa (da qual o MIL é Sócio Honorário) – para a qual fomos eleitos, por proposta do Professor Adriano Moreira: “os blocos linguísticos/ culturais resistem mais à erosão do tempo do que os blocos estritamente alicerçados em meras afinidades ideológicas”. Eis uma tese que, a nosso ver, é tão válida a nível interno como externo. Daí, uma vez mais, o potencial geopolítico do bloco lusófono, que temos procurando salientar na Revista que o MIL edita semestralmente (a NOVA ÁGUIA).

O dealbar do século XXI conheceu novo ciclo económico muito complexo, recordando-nos outros ciclos igualmente desafiadores da história recente da humanidade. O papel da dívida soberana adquiriu um papel crucial e hoje verificamos como parecemos estar à beira do fim de um ciclo – 2030. Numa conjuntura económica que desafia a imaginação e a resiliência da condição humana, que papel diferenciador (radical?) pode ter a PASC na promoção da discussão dos principais problemas que enfrentamos em Portugal, no seio do mundo lusófono, e no mundo?

A PASC tem ainda um grande potencial a cumprir – a nível interno e externo, assumindo-se como um exemplo a replicar em todos os restantes países lusófonos. Nos Congressos da Cidadania Lusófona, que o MIL tem organizado há cerca de uma década, sempre com o patrocínio institucional da PASC, temos assumido esse duplo propósito: defender e difundir o conceito de cidadania lusófona (no nosso caso, perfeitamente complementar com a cidadania europeia); e agregar as Associações da Sociedade Civil de todo o espaço da Lusofonia, ampliando assim exponencialmente o horizonte da PASC.

Muitos politólogos apontam para o aprofundamento da clivagem entre soberanistas e globalistas. E apontam uma tendência para a emergência de uma nova realidade política designando-a, por vezes, como um sistema neo-feudal tecno-eugénico apoiado no «stakeholder capitalismo». Neste novo quadro político normal, é apontado uma nova tendência – a tentativa de «recalibrar a liberdade de expressão», um eufemismo inteligente quando se fala de liberdade de expressão. Aliás, são disso exemplos as tentativas de controlo de opinião através de agências de «fast checking» que os mass media e as redes sociais têm desenvolvido nos últimos dois anos. Se assim for, qual será a oportunidade da PASC como uma «stakeholder» na sociedade portuguesa?

A PASC tem que entretanto “ganhar músculo”, ou seja, crescer, no plano quantitativo e qualitativo, para fazer jus ao nome que tem – Plataforma de Associações da Sociedade Civil –, de modo a que, em diálogo com todos os partidos e órgãos de soberania, seja reconhecida como a grande Casa da Cidadania entre nós. Há ainda, em Portugal, uma grande desconfiança do Estado em relação à Sociedade Civil, o que é um absurdo – dado que, quanto mais forte for a Sociedade Civil, mais forte será o próprio país. A PASC é, na nossa visão, um instrumento maior para o fortalecimento da nossa Sociedade Civil.

Agenda MIL – 26 de Novembro: Conferência Anual da PASC, com o Alto Patrocínio da Presidência da República e a Entrega do Prémio de Cidadania à Associação dos Ucranianos em Portugal (para mais informações: www.pasc.pt).