Estará a civilização europeia em decadência?

“Os países europeus não investem em segurança e desinvestem em defesa”

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MIGUEL MATTOS CHAVES

A teoria do relativismo, a coberto de uma enviesada noção de Liberdade, está progressivamente a destruir a civilização ocidental em geral e a europeia, em particular.

Tudo é relativo, tudo é permitido desde que não se coarcte a liberdade total e sem regras de alguns grupos. E isso só poderá levar, na minha opinião, à revolta dos que se sentem agredidos e desrespeitados nos seus valores, nas suas crenças, enfim na sua liberdade de acreditarem no que querem e seguirem os princípios em que foram educados e que defendem e nos quais acreditam.

Apenas partilho aqui dois pontos concretos para a reflexão dos leitores e meus concidadãos.

A segurança e a defesa: conceitos mal tratados na Europa dos 29

Os acontecimentos de Paris, que qualquer cidadão normal deve repudiar veemente, põem a nu uma verdade incómoda: os Estados europeus continuam com a mesma política inconsciente que levou a França a ser invadida facilmente em 1939 e facilitou o despoletar da Segunda Grande Guerra.

Ou seja, tal como a seguir à Primeira Guerra Mundial e até 1939, os países europeus não investem em segurança e desinvestem em defesa.

O orçamento europeu é paradigmático do que afirmo, pois nestes capítulos pouco excede 1 por cento do respectivo PIB, havendo mesmo países que investem ainda menos.

Em contraponto a esta situação europeia, os EUA investem mais de 3 por cento do seu PIB em defesa e em segurança.

E os europeus habituaram-se, desde o final da Segunda Guerra Mundial a “descansarem” a sua segurança e a sua defesa nos aliados do além-Atlântico.

A Europa comunitária facilitou mesmo o acesso ao seu espaço, sem grandes critérios de controlo ao abrigo de uma denominada livre circulação, a cidadãos de países terceiros.

Ou seja, a cúpula política dos países da Europa comunitária, assumiu que a Paz de Kant (a Paz Eterna) tinha chegado e que podia baixar as suas guardas. E influenciaram mesmo as suas populações, pelo menos as menos informadas, o que tem levado a que quando os Estados compram aviões de guerra, submarinos, barcos de guerra, equipamentos de vigilância, equipamentos de controlo policial de manifestações perigosas, etc., logo inúmeros cidadãos se entretêm a dizer que é um escândalo, que esses meios só servem para passear e outros disparates do mesmo calibre.

O resultado de todo este quadro resumido, é que os poderes políticos, sobretudo a partir dos acontecimentos e manifestos do Maio de 1968, em França, se começaram a revelar fracos, e pouco ou nada apoiados pelas suas opiniões públicas ou publicadas. Cederam e deixaram de comprar equipamentos de defesa e de segurança, não investem nestes campos da soberania, ou seja não melhoram a capacidade de dissuasão dos Estados face a potenciais ameaças, sejam elas o narcotráfico, a eventual proliferação de armas químicas e biológicas, o trânsito ilegal de armas, o terrorismo organizado ou espontâneo, e eventuais ameaças clássicas.

E assim a União Europeia tem assistido (apenas com discursos mais ou menos inflamados, mas a que não se segue nenhum fortalecimento prático dissuasor de acções terroristas ou semelhantes) a atentados em Madrid, em Londres, em outros lugares e agora em Paris, onde movimentos estranhos à sua cultura, religião de base, costumes, se podem movimentar livremente, praticamente sem regras.

Agora, face aos últimos acontecimentos, os governantes vêm “chorar lágrimas de crocodilo” por mais um funesto e bárbaro acontecimento como o da capital francesa. Até quando?

Quando perceberão que as forças armadas e as forças de segurança devem existir, ser bem equipadas e treinadas para se tornarem verdadeiramente dissuasoras deste e doutro tipo de acções?

Reflexão sobre a hipocrisia… e a libertinagem

Confesso que a minha paciência se esgotou e há coisas que não posso deixar de dizer embora sem insultar ninguém e sem amachucar ninguém, lembrando apenas alguns princípios de bom senso!

Liberdade. Fala-se muito, para justificar até o injustificável, nesta palavra-ideia cujo conceito parece de há muito esquecido. Ora, julgo saber que a minha liberdade acaba quando começa a liberdade de outrem! Se eu tenho direito à liberdade, os outros também o têm. Logo não posso violar a liberdade dos outros mas também não posso permitir que violem a minha liberdade. Parece-me isto muito claro e um bom princípio de convivência pacífica da sociedade.

Respeito. Esta palavra-ideia tem conteúdo neste quadro mais lato de liberdade. Quero com isto dizer que não há verdadeira liberdade sem se respeitarem os outros. Se eu insultar gravemente alguém estou objectivamente a violar a liberdade e a integridade do outro, seja através de agressão física ou sentimental, insulto, enxovalho, ou outra forma de violência objectiva (aquela que fere fisicamente ou sentimentalmente a outra pessoa).

Daqui deriva que, na minha opinião livre:

  • Não há inocentes!
  • Quem insulta, viola a liberdade do outro;
  • Quem fere ou mata viola gravemente a liberdade do outro.

É uma questão de grau.

Ambos os comportamentos são graves e violam: a liberdade com responsabilidade que deve ser o ‘slogan’ máximo da democracia, caso contrário entramos na libertinagem (sob a capa de liberdade) onde uns usam a caneta como arma e outros usam a arma como caneta.

Na normalidade da convivência civilizada, quem entra em casa (ou país) de alguém tem obrigatoriamente que cumprir as regras em vigor nessa casa/país, mesmo que só e apenas por boa educação.

Quem recebe em sua casa/país, tem que receber bem, educadamente, sem insultar, mas não deixando que as suas regras (da sua casa) sejam violadas ou modificadas a belo prazer de quem entra. Parece-me de elementar bom senso.

Felizmente ainda existem na comunidade internacional países com bom senso nesta matéria. Aconselho a estudarem o caso da Noruega e da Austrália.

No mais, e face a tantos comentários televisivos dos comentadores do regime, estou farto de tanta hipocrisia em nome da “liberdade de expressão”.

Para mim, seria bom que se fizesse uma reflexão séria e aprofundada sobre os temas que aqui deixo, para que a Europa e o Ocidente não caminhem, enquanto civilização, para a sua extinção ou para um conflito grave.