Dez por cento de vantagem num referendo histórico asseguraram que a Escócia se mantém no Reino Unido da Grã-Bretanha. A vitória do “não” ao projecto separatista pode parecer folgada: 55 contra 45. Mas, vista do lado independentista (45 contra 55), alimenta a esperança num um segundo “round” em futuro não muito longínquo. Importa, pois, perceber o que está na origem da campanha escocesa pela separação. E como essa campanha poderá dar alento a grupos secessionistas em outros países europeus.
O primeiro-ministro escocês, o socialista radical Alexander Salmond, foi rápido a admitir a derrota e a anunciar a sua saída de cena, quando na manhã de sexta-feira passada foi tornado oficial o resultado do referendo. Mas fê-lo, significativamente, com palavras bem estudadas. Poderia ter dito: “A Escócia decidiu não se separar do Reino Unido”. Mas o que ele disse foi: “A Escócia não decidiu, neste momento, separar-se do Reino Unido”. E acrescentou: “Não teremos uma oportunidade igual por mais uma geração” – uma maneira de dizer que, o mais tardar em 2035, mas provavelmente antes, a questão voltará a ser posta.
Na verdade, Salmond não falava apenas para os 1.600.000 escoceses que votaram “sim”, mas também para os dois milhões que votaram “não”. Submetidos a uma adequada e persistente lavagem ao cérebro, como votarão eles dentro de uma geração? Para o radicalismo separatista escocês, a luta continua. E, para o movimento socialista internacional, a luta continua não apenas na Escócia, mas em qualquer outro ponto do continente onde um pretexto separatista possa servir para montar uma campanha e prosseguir o trabalho de desagregação.
O quartel-general do “sim” fez o seu trabalho de propaganda com base no “nacionalismo”. Esta palavra, que no caso escocês se encontra rodeada de um folclore rico e sugestivo (homens másculos de saias, gaitas de foles, pronúncia cerrada e ‘flashes’ do filme “Braveheart”), encobre no entanto um projecto político bem definido. Um projecto que a esquerda radical vem fermentando há dezenas de anos e que na semana passada, por dez por cento dos votos, foi apenas adiado por vinte anos.
- Artigo na integra na edição impressa desta semana.