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“Minha querida Eugénia,
Porque sei que gosta de cartas, aqui lhe envio esta para agradecer-lhe os incómodos a que se deu para tornar inesquecível a visita que lhe fiz e transmitir-lhe os recados de amigos que um ramo de coincidências me permitiu encontrar por estes dias.
A Matilde e o marido foram passar uns dias ao Alentejo com a tropa-fandanga toda, para se despedirem do Ricardo, que lá torna ao Dubai por mais seis meses, e da Rita que, como de costume, se contorce só de pensar que regressa às noites nórdicas. Prometeram que assim que voltarem organizam uma graça em casa deles e que a vão buscar e levar, para que não haja desculpas.
O João Luís lá continua em casa dos pais, a viver entre esperanças. No mês passado conseguiu trabalhar durante quinze dias como motorista e guia de um casal de holandeses, mas, tirando isso, tem sido a penitência do costume. A pequenita passou uns dias com ele e os avós, o que lhe deu muita alegria, como é óbvio, mas já voltou para o Luxemburgo com a mãe e o padrasto.
Encontrei a Margarida no supermercado, na lufa-lufa do costume. Disse-me: “A partir deste mês passas a chamar-me de Santa que ando a fazer omelettes sem ovos e a multiplicar pães que nem Nosso Senhor. Mais 250 euros que se foram e os mesmos cinco lá em casa. E agora, como não faltava mais nada, o pai Matias anda doente e ainda não perceberam o que se passa com ele. Olha, se tocarem na reforma do Carlos, ficamos sem chão. Nem tenho tido cabeça para falar com a Eugénia. Manda-lhe muitos beijos nossos!” – missão cumprida, portanto.
Quem me telefonou ontem à noite foi o Alberto. Parece que os problemas da Carolina continuam. Já é a quarta vez que lhe alteram a medicação, mas, ao que parece, sem melhoras à vista. Voltou a passar os dias deitada, com intermináveis crises de choro. Perguntou se conhecíamos alguém de confiança para passar umas horas com ela, porque ele anda com receio de deixá-la sozinha. Se souber de alguém, por favor, diga-lhe.
Quanto a mim, minha amiga, lembra-se de ter comentado que o Dr. Sousa andava com um ar estranho? Pois, fim do mistério. Vai fechar as instalações em Portugal e apostar seriamente na empresa que tem com os sócios em Moçambique. Que aqui vai ficar apenas um gabinete de apoio para os clientes que tem na Europa. Marcou para dia 1 uma reunião para esclarecer toda a gente. Como pode imaginar, estamos todos antecipadamente esclarecidos, consternados e desempregados. Eu sei que a esperança é a última a morrer, mas, talvez por isso mesmo, eu me vá antes!
A ver vamos se, como costuma dizer, alguma janela se irá abrir. Certo é que a visita que lhe fiz, minha cara Eugénia, me trouxe paz e ânimo para enfrentar estes dias. Bem-haja.
Com muita amizade, a sua
A.”