A abertura de fronteiras na Europa centro-oriental

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Francisco Henriques da Silva

Embaixador

No Centro e Leste europeu, a adesão à UE significou, no essencial, a abertura de fronteiras e a liberdade de movimentos: reabriam-se portas que não se voltariam a fechar.

Um dos problemas por que sempre me interessei foi o de saber como é que os países da Europa Central aderiram tão espontaneamente à NATO e à União Europeia e, bem assim, o inevitável encadear de questões conexas que, invariavelmente, carecem, ainda hoje, de respostas claras e precisas: porque é que aderiram? Como é que as instituições e países que integravam aquelas organizações os acolheram e porquê? O que é que significou, em termos concretos, a inserção nessas novas estruturas? Como é que as populações e a opinião pública desses países reagiram? Etc.

Não creio serem necessárias grandes explicações para elucidar a necessidade, a pressa e, mesmo, o atabalhoamento do “lado de cá” em integrar, de qualquer maneira, os países que pertenciam ao Pacto de Varsóvia e que, agora (refiro-me ao período pós-1989, ou seja, na sequência da queda do muro de Berlim), podiam vaguear na periferia da NATO e da UE, sem rumo próprio e sob risco de enfrentarem perigosos vazios de poder ou de enveredarem por caminhos ínvios.

A libertação do jugo da União Soviética e os anti-corpos que todos estes povos tinham gerado, ao longo de décadas, em relação a Moscovo, aos russos e ao comunismo fez com que no relativamente curto espaço de 10 anos integrassem a Aliança Atlântica, matéria em que, como se sabe, Washington desempenhou um papel fundamental. Em suma: as ovelhas voltavam ao redil. Com efeito, em 1999, a Polónia, a Hungria e a República Checa aderiam à NATO, outros seguir-se-lhes-iam.

Subsistia, porém, uma questão de fundo: se os comunistas, os seus simpatizantes e “compagnons de route” estiveram mais de quarenta anos no poder, como é que perderiam os velhos hábitos, tiques e manias e se convertiam muito rapidamente ao novo catecismo da Democracia, do Estado de Direito e da Economia de Mercado? Por ora, “No Comment!”. Não vou por aí. Direi apenas que o passado não se apaga, como alguns pensam, com a passagem de uma esponja molhada no quadro negro pintado a giz.

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