VASCO CALLIXTO
Os portugueses da América celebraram a 15 de Março o “Dia de Pedro Francisco”, o português dos Açores que o destino levou menino para o outro lado do Atlântico e veio a ser um destacado herói da guerra da independência norte-americana.
Quando da minha última viagem por estradas da costa leste dos Estados Unidos, desde Boston até à Florida, procurei conhecer os locais relacionados com a acção deste nosso compatriota que fez publicar livros, erguer monumentos e emitir selos em sua homenagem.
E em Portugal, quem conhecerá Pedro Francisco? Muito poucos, por certo. Bom seria que os feitos dos portugueses além fronteiras, fossem dados a conhecer no País onde nasceram.
Um livro publicado em 1980 nos Estados Unidos, “Peter Francisco – The Portuguese Patriot”, conta a história do herói português que ficou conhecido como “O Golias da Revolução” e foi distinguido pelo general George Washington.
Nascida em 1760, em Porto Judeu, na ilha Terceira, uma criança veio aí a ser raptada e posteriormente abandonada na costa norte-americana pelos seus raptores. Quando foi encontrada por uma boa alma que a recolheu, apurou-se que a criança era de origem portuguesa, teria 5 a 6 anos de idade e terá sabido dizer que se chamava Pedro Francisco.
Não só no citado livro, mas também em outras obras, incluindo o meu “Portugal na Costa Leste dos Estados Unidos”, a história de Pedro Francisco é pormenorizadamente relatada. Armando de Aguiar também se lhe refere em “O Mundo que os Portugueses criaram”.
Quando em 1775 começou a luta pela independência das colónias inglesas da América, Pedro Francisco, com 16 anos de idade, tinha um corpo de gigante e uma força invulgar. Media quase dois metros de altura e pesava 118 quilos. Foi dos primeiros a alistar-se para lutar pelo separatismo da Inglaterra. E logo se destacou nos primeiros combates. Usava uma espada especialmente feita para ele. Em lutas corpo a corpo, derrotava todos os seus adversários.
Combatente de oito batalhas, na batalha de Guilford Courthouse, na Carolina do Norte, o bravo soldado português matou com a sua espada onze soldados inimigos. Na batalha de Camden teve também uma notável acção. Arrastando sozinho um canhão de 550 quilos, ditou a sorte da luta e salvou ainda o comandante do seu batalhão. Tantas foram as proezas do bravo soldado-gigante, que algumas entraram no domínio da lenda.
Quando a guerra terminou, Pedro Francisco começou por ser ferreiro na Virgínia e mais tarde transformou-se em abastado lavrador. Ainda em vida, foi considerado “Benemérito da Pátria” pelo Congresso dos Estados Unidos. Faleceu em 1831, com 70 anos de idade.
Foi numa pequena cidade de Massachussets, Ludlow, que primeiro se me apresentou Pedro Francisco, num belo quadro, no Grémio Lusitano local, identificado como “Peter Francisco, Hercules of the American Revolution”. E oportuno será referir que foi o Estado de Massachussets que insituiu o “Dia de Pedro Francisco” em 15 de Março, quando se comemora a citada batalha de Guilford Courthouse, em que o nosso compatriota se destacou.
Em Newark, no Estado de Nova Jersey, no Largo Peter Francisco, revelou-se-me um obelisco em cuja base se lê, em inglês, “Em honra de Pedro Francisco, o Hércules da independência americana”.
Situam-se na Carolina do Norte e na Virgínia os locais que melhor evocam a acção de Pedro Francisco.
Na cidade de Greensboro fui conhecer o Parque Nacional Militar, consagrado à já citada batalha de Guilford Courthouse, travada naquela área. Lá está um “Monumento da Cavalaria”, vulgarmente chamado “The Francisco Monument”, construído em 1909. Ostenta uma placa com os seguintes dizeres: “A Pedro Francisco, um gigante em estatura, força e coragem, que aniquilou nesta batalha onze soldados inimigos com a sua própria espada, tornando-se talvez o mais famoso soldado raso da guerra da independência”.
No Centro de Visitantes do mesmo Parque Militar, Pedro Francisco está presente em dois quadros, num dos quais é apresentado em acção bélica, referindo-se que a sua grande espada lhe foi oferecida por George Washington. Numa vitrine apresenta-se um par de grandes sapatos e um estojo de barba, objectos que foram oferecidos a Pedro Francisco em homenagem “ao seu valor moral e ânimo”.
Passando ao Estado de Virgínia, na cidade de Hopewell, no subúrbio de City Point, uma placa dá a saber que “Pedro Francisco foi aqui desembarcado em 1765”, mais se referindo que era o “One Man Army” de George Washington. No centro da cidade, um busto recorda o herói que em criança ali foi desembarcado. Surpreendente, uma das principais artérias de Hopewell ser o “Prince Henry Avenue”.
Em Richmond, capital da Virgínia, faleceu Pedro Francisco. À entrada do cemitério local, uma placa em forma de seta com o nome Peter Francisco, orienta o visitante para a campa mais procurada. Numa coluna, uma inscrição revela o nome e a data da morte de quem ali repousa, completando-se com um esclarecimento: “Um Soldado de Fama Revolucionária”. Quando Pedro Francisco faleceu, era sargento-de-armas da Câmara Estadual de Deputados.
Grande figura do primeiro capítulo da história dos Estados Unidos da América, Pedro Francisco bem merecia que os portugueses da América oferecessem uma estátua do herói luso-americano à cidade de Lisboa. A benéfica União Portuguesa Continental, associação com sede em Boston, que instituiu o “Prémio Pedro Francisco”, poderia tomar tal iniciativa.