Acontece com frequência receber o apoio de pessoas que me encontram na rua ou no supermercado pelo textos aqui publicados, mas no caso do texto da semana passada, “O manicómio nacional”, o apoio foi muito superior e dizem-me que nas redes sociais foi ainda maior. Ou seja, a verdade sobre o mau funcionamento da governação na TAP, que ficou bem patente na comissão de inquérito, terá tido um efeito clarificador sobre os vícios políticos e a incompetência de António Costa e do seu Governo para resolver os muitos problemas que o país enfrenta e, pela primeira vez em sete anos, parece que os portugueses estão a começar a compreender o erro do apoio dado ao PS.
No mesmo sentido uma pessoa amiga enviou-me um texto sobre uma palavra que desconhecia “Wokismo”, ainda que conheça bem os seus efeitos. O autor do texto, José de Carvalho, professor e investigador em história, dá alguns exemplos daquilo a que chama uma nova doença mental. Exemplos que vão desde a pilinha existente numa estátua de Miguel Ângelo, aos livros de Agatha Christie, à saga literária de 007 escrita por Ian Fleming entre 1955 e 1963, em que surgem grupos de pessoas a combater os valores do passado com os critérios, nem sempre válidos, do presente. Em Portugal trata-se, por exemplo, de compensar os africanos pela nossa própria saga dos descobrimentos, de remover a estátua de António Vieira e de deitar abaixo o Padrão dos Descobrimentos.
Nos últimos dias descobri em Portugal alguns notáveis exemplos da mesma doença de que desconhecia o nome: a deputada do PS Isabel Moreira escreveu recentemente sobre o recente assassínio de duas mulheres por um imigrante afegão o seguinte: “O refugiado afegão merece toda a compaixão”; ou de seguida “jamais o trama irá sair da sua cabeça”; ou finalmente, “apesar deste pequeno incidente com as vítimas”. Um outro caso é o da investigadora Raquel Varela que sustenta que o fracasso do Governo de António Costa “resulta das políticas neoliberais do PS”.
Claro que todos os dias tomamos conhecimento de tiradas semelhantes e, por vezes, ficamos na dúvida se essas pessoas estão ou não a falar a sério, porque é normal que se pense que uma deputada da Nação e uma investigadora, que dou como certo tenha um doutoramento, não procurem averiguar da racionalidade das suas afirmações antes de as lançarem no espaço público. Entretanto, é claro que toda esta confusão de valores lançados sistematicamente para o ar, desvia a atenção das reais dificuldades dos portugueses, torna mais irreal o debate sobre uma estratégia nacional para o desenvolvimento e desvia as atenções dos sucessivos erros e prepotências do PS e do primeiro-ministro António Costa.
Agora, nem de propósito e no mesmo sentido, teremos dentro de dias mais um episódio da referia doença. Trata-se da prevista intervenção de Lula da Silva na Assembleia da República, a qual representa uma desvalorização ao 25 de Abril e de tudo o que esse dia ainda representa para milhões de portugueses. Porque ainda que respeitemos o Presidente eleito democraticamente do Brasil, não confundimos isso com o seu passado homónimo ao de José Sócrates, ou com as suas recentes posições relativamente à guerra na Ucrânia.
Porque quando o Presidente do Brasil afirma que os Estados Unidos e a União Europeia sustentam a guerra na Ucrânia, parece desconhecer que Portugal é membro da União Europeia e que a opinião de milhões de portugueses vai no sentido de pensarem que foi Putin que iniciou a guerra, que a Rússia é uma ditadura que escraviza o seu próprio povo, que tem políticas de domínio sobre os povos vizinhos, de forma semelhante à seguida pela ex-União Soviética.
Que Lula da Silva não compreenda a diferença entre as ditaduras de um só homem, como as da China e da Rússia, com as democracias ocidentais dos Estados Unidos e da Europa e do direito dos povos à defesa dos valores democráticos, como da Austrália ao Japão, é um problema do povo irmão do Brasil, desde que isso não seja confundido com o dia lindo do 25 de Abril. Que o PS, o primeiro-ministro e o Presidente da República, bem como a maioria dos deputados na Assembleia da República, não queiram ver esta menorização dos valores democráticos já é um problema nosso.
Penso que a maioria dos portugueses celebrou a vitória de Lula da Silva sobre o anterior presidente do Brasil, o que mostra que não vendemos os valores democráticos do 25 de Abril. Mas, pela mesma razão, não aceitamos a mentira organizada e a violência usada sobre os povos da Rússia e da China. A defesa da paz promovida por Lula da Silva é a mesma que em 1939 levou alguns governantes europeus até Munique, com o resultado da maior catástrofe mundial provocada por Hitler. Agora, como então, a paz de Putin é a mesma paz que levaria à submissão de povos agora livres. Os finlandeses e os polacos, os suecos e os habitantes das repúblicas bálticas sabem disso, razão para apoiarem a Ucrânia em antecipação do que lhes possa acontecer. Nenhum país está livre de cometer erros, mas em democracia os erros são corrigidos de quatro em quatro anos nas secções de voto. Infelizmente, não é esse o caso da Rússia, da China, da Coreia do Norte, de Cuba, da Venezuela e esperemos não venha a ser esse o caso do Brasil, porque são países onde os ditadores se perpetuam no poder.
O presidente do Brasil deve ser naturalmente bem recebido em Portugal e estou certo que o será. Todavia, não havia necessidade de confundir a boa recepção a Lula da Silva com a data histórica do 25 de Abril, nem confundir relações pessoais e partidárias com a visita do chefe de Estado do país irmão.
Finalmente, penso que a maioria dos portugueses espera que alguém recorde ao nosso convidado que somos membros da NATO e da União Europeia e respeitamos os valores da paz e da liberdade, razão porque, tal como ele, defendemos a paz na Ucrânia. E de tal forma a defendemos que consideramos útil que ele possa esclarecer na sua visita a forma como planeia e em que condições pensa conseguir a desejada paz. Porventura, pensando qual seria a paz que ele desejaria se um qualquer país, por exemplo os Estados Unidos, invadisse a Amazónia. ■