50 ‘shades of lipstick’ por Diogo Gil Gagean
Os meus estimados leitores que me seguem há muito tempo sabem que a coisa que mais odeio em política é a hipocrisia dos nossos actores, seja ela de direita ou de esquerda. Vem o assunto a propósito de Boaventura Sousa Santos, o professor estrela da Universidade de Coimbra, a sua reacção e a do partido que lhe serve suporte, o Bloco de Esquerda.
O Bloco está muito grato a Boaventura, durante anos o académico do CES preencheu as universidades com bolseiros e doutorandos apaniguados dos extremistas de esquerda, em actos que não são mais do que preparar “académicos” para o combate político, pagos, claro está, com o dinheiro dos contribuintes. É ver esta gente em tudo o que é instituição pública, desde o CEJ às inúmeras associações activistas financiadas pelo erário público.
O silêncio do Bloco e do seu camarada Francisco Louçã já era expectável, foi assim com o candidato à câmara municipal de Vila Nova de Gaia em pleno movimento “MeToo”, no qual Boaventura instava os seus acólitos a pintarem os lábios de vermelho em solidariedade com as vítimas do assédio sexual.
Mas como no melhor pano cai a nódoa, eis que Boaventura se vê acusado de assédio. Alegadamente, o nosso “farol dos bons costumes” terá utilizado a sua posição de poder para se insinuar de forma contrária aos costumes que tanto defende, há um bom par de anos, a bolseiras do CES, que dependiam directamente da sua boa vontade.
O guru da esquerda radical viu-se acusado por cinco mulheres e logo se veio defender como sempre se defendem os alucinados da extrema-esquerda, insinuando que as acusações não passavam de ataques dos neoliberais. O problema é que estas cinco mulheres são claramente de esquerda, a belga Liesotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro, a norte-americana Myie Nadya Tom, a argentina Moira Ivana Millán e a brasileira Bella Gonçalves, não são propriamente militantes do Chega.
Para quem sempre se mostrou contra o colonialismo, Boa-
ventura mostra exercer o seu “ius imperium” da mesma forma que qualquer capataz da roça o exercia, exercendo o seu poder de domínio sobre os mais fracos e sob a sua dependência para os obrigar a praticarem actos contra a sua vontade.
Boaventura diz-se vítima de cancelamento, a ironia da coisa. Boaventura é, desde há vários anos, o inquisidor-mor do reino. A cultura que o professor estrela professa assenta principalmente na censura do pensamento e no cancelamento de qualquer pessoa que ouse pensar de forma diferente da sua. Quem andou pelo CES costuma muitas vezes comentar que ninguém se atrevia a ir contra a corrente de pensamento vigente, com medo de perder acesso às bolsas de investigação.
Nada que surpreenda quem conheça as posições políticas de Boaventura, o homem que chorou a morte de Fidel e a de Chavez, afirmando que eram uma perda enorme para a democracia na América Latina.
Muita desta aura de pensador democrático atribuída a Boaventura vem precisamente da América Latina e dos regimes autoritários marxistas que lhe vão atribuindo comendas e doutoramentos “honoris causa” pelo seu trabalho em prol da expansão do marxismo. Era bom alguém investigar a reciprocidade nos doutoramentos e comendas, ver quantos “honoris causa” e comendas foram atribuídos pela UC e ver quais instituições e quem atribuiu ao professor comendas e títulos. Se calhar iam ficar surpresos com as respostas.
Surpreendente, ou talvez não, é a posição ou o silêncio das feministas portuguesas, já foi assim com o ataque no centro ismaelita de Lisboa, em que tudo não passou de um ataque psicótico, como se as pessoas andassem com facas na mochila à espera de um surto da mente, agora surpreende não dizerem que a culpa é do álcool, porque o professor Boaventura, quando não bebe, é um homem impecável. Raquel Varela diz que não é coincidência que estas denúncias sejam sempre sobre pessoas de esquerda e que acabar com Boaventura é acabar com a “geringonça”.
Continuamos na mesma, para a esquerda não interessam os factos, interessa é se a pessoa professa o marxismo ou não. Se professar, as suas intenções são sempre as melhores.
O vermelho do “bâton” vai-se esvanecendo sempre um bocado até ser incolor, se o agressor usar uma “t-shirt” do Guevara. ■
Quem diz é quem é… por José Guilherme Oliveira
A questão e a discussão deveriam ser à volta da indecência do comportamento do Dr. Boaventura de Sousa Santos, que pelos vistos não é tão invulgar ou excepcional como deveria.
Inevitavelmente, o tema descamba em confronto entre a esquerda e a direita, desde logo pelo facto de o infractor ser quem é. O Dr. Boaventura de Sousa Santos é, reconhecidamente, o guru de uma esquerda que se intitula de “a nova esquerda”, mentor do Bloco de Esquerda, alguém a quem comummente poderíamos de chamar de: …“Uma referência da esquerda vanguardista (seja lá o que isso queira dizer) e o “papa do ‘wokismo’”.
O movimento “woke” e os seus activistas cultivavam e partilhavam com a esquerda mais radical alguma veneração ao velho Dr. Boaventura.
Pelos vistos, toda a gente sabia dessa “característica” do Dr., mas, hipocritamente, o seu “marialvismo” foi desvalorizado e, pior que isso, foi sendo permitido. A descrição da activista argentina, Moira Millan é demolidora, não só pelos factos que relata, que são desprezíveis, mas também pelas reacções e aconselhamento ao silêncio, para não parecer que está a fazer o jogo da direita.
Pelos vistos a história sempre foi uma questão política.
Entretanto, os frenéticos e histriónicos vanguardistas e progressistas, os hiperactivos e atentos representantes da esquerda moderna e do “wokismo”, os Rodrigos Faro, os Brunos Nogueira, as capazes… “moita carrasco”.
Desta vez não houve lábios pintados de vermelho garrido.
Houve excepções, mais ou menos envergonhadas, com destaque para o Luís Osório.
Não há dúvidas, nem vacilos sobre a condenação das práticas do Dr. Boaventura, actos nojentos, inomináveis e indefensáveis. …“Todas sabemos”… Pelos vistos todos sabiam.
Mas a hipocrisia é pecado de calibre quase igual ao assédio do Professor.
É fundamental apontar a dedo, com coragem, aos falsos, expor a falsidade.
O homem era de esquerda, mas o mal não tem lado.
Ora, essa “uma nova peste que se vem espalhando por todo o Ocidente” e que “é preciso combater sem medo, com conhecimento, lucidez e coragem” como diz o filósofo Manuel Maria Carrilho (que não consta ser um tipo de direita), quando se refere à “cancel culture” e ao “wokismo” (“toda a imensa panóplia de formas de fanatismo analfabeto e persecutório que acompanha estes dois termos”), tem de ser denunciada, pois é cúmplice pelo silêncio ou pela tibieza da crítica.
A bem da decência, Boaventura nunca mais. ■