Inflação a 2% deixa Portugal em maus lençóis

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Eva Cabral

A “boa notícia” de que no espaço da União Europeia se regressou a uma inflação virtuosa em torno dos 2% faz tremer as finanças e a economia de Portugal, por se saber que o BCE está agora pressionado a pôr um ponto final na política de estímulos que passava pela compra de obrigações dos países.

Com a nossa taxa de juro a dez anos em torno dos 4%, Portugal ficará em maus lençóis se Mario Draghi e o Banco Central Europeu acabarem com as “ajudas” aos Estados-membros no final deste ano.

Os avisos repetem-se, destacando-se nos últimos dias a voz de Teodora Cardoso, presidente do Conselho Superior de Finanças Públicas. A economista confirma que nestes anos “foi muito importante o BCE, mas não podemos contar com o BCE eternamente”.

Em Fevereiro, a taxa de inflação na Zona Euro atingiu os 2%, segundo os dados divulgados agora pelo Eurostat. Recorde-se que é a primeira vez em quatro anos que a subida dos preços acelera para um ritmo que já fica acima da meta do Banco Central Europeu (BCE), que pretende uma inflação “perto, mas abaixo de 2%” no médio prazo.

Com esta taxa, Mario Draghi, presidente do BCE, poderá ficar sob uma pressão ainda maior para acabar com os estímulos monetários à economia, que foram lançados com o propósito de fazer subir a inflação, que chegou a estar perto de 0% (um cenário igualmente indesejável).

Na verdade, o BCE utiliza medidas para calibrar a taxa de inflação para um valor ligeiramente abaixo dos 2% através da política monetária. Ou seja, quando a taxa de inflação se aproximou de 0%, criando riscos de formação de uma espiral de deflação na Zona Euro, a autoridade monetária liderada por Mario Draghi decidiu tomar medidas como a redução das taxas de juro (directoras, para zero, e dos depósitos, para valores negativos) e avançar com as compras de títulos de dívida pública e privada.

Estas compras de dívida têm sido essenciais para Portugal numa fase em que o país estava a sair de uma intervenção externa originada pela total irresponsabilidade dos Executivos socialistas de José Sócrates, que obrigaram a chamar a Troika e fizeram mergulhar os portugueses em anos de chumbo.

Agora, com a taxa de inflação a ascender aos 2%, sobretudo graças à evolução dos preços da energia (cuja queda também tinha provocado a baixa inflação dos últimos anos), torna-se maior a pressão sobre Mario Draghi para que o programa de compra de dívida – que tem sido decisivo para o acesso de Portugal aos mercados – não seja prolongado além do final do ano e, por outro lado, para que as taxas de juro também não caiam mais.

  • Leia este artigo na íntegra na edição impressa desta semana.