O caminho da direita

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1991

No início pensei que o partido Chega pudesse ser uma lufada de ar fresco na política portuguesa, com propostas inovadoras que acompanhassem o discurso duro. Com o passar do tempo observei que estava a ser ingénuo e que o Chega não é bem um partido político, mas antes uma manobra de “marketing”, cheia de lugares comuns e chavões que vão ao encontro de um certo nicho de eleitores. Uma visita ao seu sítio da “internet”, por exemplo, tende a ser doloroso, tal a quantidade de palavras de ordem e falta de conteúdo, ou melhor, de um projecto concreto para o país. O método não é nada original, é uma réplica de outros países, com a elevação do líder e a defesa de generalidades com um ritmo insistente, que soam bem a inúmeros ouvidos.

André Ventura tem dupla atenção na imprensa: o que ele diz de forma inflamada e o que os moralistas da esquerda repetem ao criticá-lo. Ventura consegue incendiar a opinião pública por culpa de quem lhe dá palco e por quem tenta apagar o fogo com gasolina. Mas evidentemente que isto tudo tem uma motivação óbvia: a esquerda radical só tem razão de existir se houver uma direita radical. A sobrevivência da extrema-esquerda (e dos seus ideais culturais hoje amplamente difundidos) depende da eliminação dos moderados.

Agora a direita tem uma escolha a fazer: perder com o John McCain ou ganhar com o Donald Trump? O que quero dizer é simples e não se aplica apenas aos republicanos nos Estados Unidos, mas a grande parte do mundo ocidental civilizado e, incluindo, Portugal: é preferível perder com honra, tendo como porta-voz um homem sério que respeita os adversários, não abdicando de qualquer dos valores que criaram a direita nos costumes e nas finanças públicas. Este é o único caminho possível. Ganhar com populismos e excessos é vender a alma por trinta moedas de prata, sabendo que o sucesso a curto-prazo trará grandes custos no futuro. Começando por dar razão a uma esquerda radical que deveria estar moribunda desde a queda do muro de Berlim, mas que ressurgiu das cinzas, ganhou claramente a batalha cultural nesta geração e entretém-se a reescrever a História para as gerações futuras. Pois partem de uma base falsa e, segundo premissas assentes na retórica obtusa da luta de classes, do opressor e do oprimido, da dualidade que promete o paraíso na Terra, se cancelarmos os pretensos privilegiados e destruirmos os valores que são a base da sociedade ocidental.

Se podemos concluir que o surgimento e crescimento do Chega serviu mais a extrema-esquerda e que não tem nada de positivo para dar ao país, porque haveríamos de concordar com qualquer espécie de acordo ou sequer conversação por parte da direita social-democrata? O poder não pode nem deve ser conquistado a qualquer custo. Há uma questão fundamental de princípio e linhas vermelhas que não se podem cruzar. Sei que vivemos numa época de relativismo moral e escassez intelectual da maioria dos políticos, mas estes existem para servir os portugueses e não o contrário. Além das ambições pessoais de cada um e das fantasias narcisistas em que vivem, há um país que está quase a fazer mil anos e que só sobreviverá às mentiras da extrema-esquerda se conseguir suster os valores únicos com que foi criado.

Sem luta não teríamos conseguido ser independentes e sem coragem não teríamos feito os descobrimentos, mas sem honra e integridade seríamos nada.