o mau estado da nação

0
1295

A culpa é do povo! por João Gil Gagean

Chegados a Agosto de 2022, cumpre fazer um ligeiríssimo apanhado do estado da Nação.

O tão afamado SNS está pelas ruas da amargura. No Algarve, as grávidas têm de consultar primeiro um “site” na “internet” e só depois é que se podem dirigir a um hospital. Caso estas mulheres se apresentem no hospital e percam o seu bebé ou tenham alguma complicação na gravidez, a culpa será sempre sua, no entender do Governo, pois a sua obrigação seria em primeiro lugar consultar a “internet” e só depois se preocuparem com a sua urgência. Este “complot” dos casais portugueses que decidiram fazer amor em Novembro/Dezembro, só para prejudicar sua alteza a Dra. Temido, tem de ser rapidamente desmascarado como uma manobra da direita para denegrir a imagem da senhora. 

A Noruega também já apresentou uma queixa formal pelo declínio do consumo do bacalhau neste Verão em terras lusas, pois como é sabido o bacalhau à Brás é o principal responsável pelas urgências hospitalares, e os portugueses, como são bem-mandados, anuíram ao pedido de Graça Freitas. Ainda no SNS, caso adoeça, chame um Uber para não ter de recorrer às ambulâncias que prestam assistência aos enfermos, pois estas têm de estar paradas por falta de pessoal e para poupar combustível. 

Ficamos ainda a saber que a culpa dos incêndios é dos portugueses, pois não acautelam os seus terrenos, nomeadamente procedendo à sua limpeza recorrente. Não é por falta do reordenamento florestal, nem pela falta de competência da protecção civil ou do MAI. 

O incêndio que ocorreu na base logística do INEM, no qual ardeu uma ambulância, deveu-se também aos populares, pois ao verificarem que o estado não tinha limpo o seu terreno, não procedeu por iniciativa própria à sua limpeza. O Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar pediu a demissão do Conselho Directivo do INEM, mas, como o leitor imagina, a direcção do INEM não pode ser responsabilizada pelo incidente. Esta responsabilidade cabe aos cidadãos. 

Na Assembleia da República, Santos Silva mostrou-se muito indignado com a forma como o Chega se referiu aos imigrantes e repreendeu o partido, os deputados em êxtase levantaram-se e aplaudiram freneticamente o nosso número dois. Quando Eduardo Cabrita escondeu o assassinato de um cidadão ucraniano nas instalações do SEF ou quando tivemos conhecimento da escravatura de imigrantes em Odemira sob a governação socialista, os mesmos deputados não se indignaram. 

Soubemos também que a emergência climática se deve ao facto dos portugueses utilizarem viatura própria e que, no futuro, se devem habituar a utilizar transportes públicos ou transporte próprio de locomoção animal, caso o animal seja o contribuinte, claro, não queremos ofender os senhores do PAN. Os 11 ou 12 motoristas de António Costa já devem estar a frequentar um curso intensivo de condução de trotineta. Caso os motoristas sofram com as vagas de calor, podem sempre recorrer aos refúgios climáticos que Rui Tavares pretende que se criem em Lisboa para se abrigarem da canícula. 

Ainda este Verão vamos ter a sempre indispensável para a democracia “Festa do Avante”. Fiquei a saber que os camaradas, além da isenção do IVA, cobram bilhetes a quem quer ir celebrar a “democracia” num ímpeto capitalista, descobriram que sem dinheiro não há artistas e sem artistas não há festa. Artistas estes que demoraram 48 anos a descobrir que o PCP não é democrático, mas mesmo assim vão actuar na festa.

A direita também anda a sofrer da insolação normal da época, ficamos a saber que Carlos Moedas, a nova coqueluche do PSD, quer homenagear Vasco Gonçalves em nome da democracia. Ora, ou Moedas anda desatento e não sabe que o companheiro Vasco era tudo menos um democrata, que atrasou o país décadas em relação à Europa com as suas nacionalizações e “reforma” agrária, ou apenas deseja agradar à esquerda que habita a capital e que controla a academia e a comunicação social, granjeando assim alguma paz neste Verão.

No Porto ficamos a saber que várias esquadras da polícia de segurança pública encerraram por falta de operacionais, mas o MAI resolveu a situação mandando instalar uma unidade móvel, que rapidamente se tornou imóvel devido a avaria. Com as condições que lhes damos, estou cada vez mais convencido que os nossos agentes de autoridade são heróis. 

P.S. – Devido a um incidente com uma senhora que aparentemente estava embriagada, todos os portugueses foram rotulados como racistas. Pelo vídeo que observei, apenas vi a senhora a ser insultada, mas faço fé de que o que acusam a senhora de ter dito seja verdade. A esquerda surfou mais uma vez num incidente racista, o Presidente da República claro que tinha de comentar, mas o mais importante foi o comentário do candidato ex-presidiário Lula da Silva, mostrando solidariedade com as vítimas. Eu também estou solidário com as vítimas. E aguardo ainda as declarações da esquerda sob as afirmações relativas aos portugueses que trabalham num clube de futebol brasileiro proferidas por Lula. ■


O país está nos cuidados paliativos por José Guilherme Oliveira

O tempo é de férias e de descanso. Meio Portugal está a banhos. Tempo é ideal para balanços.

O ano de 2022, trouxe-nos um Governo de maioria absoluta do Partido Socialista, que livre das excrescências radicais da extrema-esquerda e com a oposição resumida à IL e ao Chega, um PSD ainda ligado às máquinas, achei estarem reunidas as condições ideias para um futuro glorioso. 

Se havia a atenuante do Covid, a guerra na Ucrânia e o impacto generalizado na normalidade vigente, ainda assim, e se calhar até por isso, os ventos sopravam a favor e o tempo é o propício para as mudanças e reformas tão apregoadas e desejadas.

Aparências.

Desde logo, o primeiro-ministro, que é homem hábil, experiente político, demonstrou que não tem rasgo. 

Desde logo manteve, grosso modo, toda a tralha que o acompanhou até aqui. Ora, se a lealdade é uma virtude de carácter, outros valores maiores se levantam. A mudança no elenco governamental era uma necessidade. São necessárias caras novas, que tragam pelo menos esperança e ambição. Em vez disso, por teimosia ou falta de força política (estranho!), manteve a velha corte.

Os problemas madrugaram: 

Foram as peripécias da Graça Temido, as gafes da Graça Freitas (destaco o do inenarrável bacalhau à Brás) e agora até “o super benjamin” PNS meteu os pés pelas mãos na questão do novo aeroporto. Entretanto, fecham esquadras de polícia, as urgências dos hospitais intermitentes, as maternidades com horário reduzido e os incêndios voltaram em força. 

É evidente que o país está nos cuidados paliativos.

O início de um novo ciclo cheira a fim. 

O pior é que não há expectativa, não há esperança e acho mesmo que por esta altura já ninguém espera grande coisa do Costa. O homem, qual bombeiro, redobra-se em explicações e justificações. Reformas é que nem vê-las.

Para piorar o cenário, a oposição é o que se sabe. O Chega é o Chega, o PCP é aquilo que a gente sabe, e sabemos todos que não é por ali, a IL tem o Carlos Guimarães Pinto e, convenhamos, que até é bom, o PAN não é coisa nenhuma e o Livre uma muleta, o PSD, mesmo dando benefício da dúvida pela recém-chegada da nova direcção, não empolga absolutamente ninguém (ou é erro meu de percepção?).

Enfim…

O Estado a que isto chegou!

Eu, cidadão comum, tenho uma sensação de desânimo, de confusão e de desesperança.

Como se não bastasse, como é que me posso sentir quando assisto às atitudes recentes do Dr. Moedas, que se insurge contra a estatuária existente nos edifícios da Câmara, representante de homens brancos, coisa que lhe faz estranheza?! Ele que em simultâneo patrocina homenagens ao Vasco Gonçalves!!

Entretanto, continua em aberto a questão do novo aeroporto, mas existe um concluído e silencioso (é que nem barulho de aviões tem…) em Beja e ninguém fala dele, é que nem sequer as forças vivas do Alentejo (será que existem?!…), os autarcas, os deputados eleitos pela região, “umzinho” sequer que ponha o dedo no ar.

“Por Toutatis, estes Lusos estão doidos e dormentes”. ■