Em “Anjos de Charlie”, uma peça bem conhecida da filmografia norte-americana, três mulheres (os Anjos) trabalham para uma agência de detectives com um chefe misterioso e desconhecido chamado Charlie.
Na vida real, e no caso vertente de Portugal, outros três Anjos trabalharam ou trabalham em prol de um chefe, este bem conhecido e nada misterioso, de seu nome António Costa.
Numa primeira linha de sequência temporal, o primeiro Anjo de Costa foi Rui Rio. Homem de personalidade bem definida, algo rígido, conservador e aparentemente sério, Rio nunca hostilizou Costa enquanto seu adversário político.
A estratégia de Rio assentou na criação de um clima de estabilidade política e de entendimento (nalguns casos quase namoro) com Costa, fazendo crer que o seu objectivo não era exactamente conquistar o poder, mas sim de o partilhar.
Rio terá tido em mira a recriação de um bloco central, que Costa rejeitou com a sua habitual boçalidade e por várias vezes menorizando Rio na Assembleia da República.
A opção de Costa pela criação da “geringonça” mais não foi do que uma enorme bofetada política em Rui Rio, tendo-lhe permitido quatro anos de governação sem sobressaltos, sob as asas de um Anjo sempre parcimonioso na relação institucional.
Seguiu-se Luís Montenegro, apontado como uma personalidade diametralmente oposta de Rio. Montenegro tem evidenciado debilidades muito vincadas de afirmação pessoal, que enraízam na sua comunicação pouco afirmativa (a tonalidade da voz também não ajuda) e na sua postura física… os movimentos e os gestos de Montenegro não são típicos de um líder nato, de um combatente que se impõe pela sua presença e natureza das suas convicções.
Nos últimos dias, ao não votar favoravelmente a moção de censura da IL- Iniciativa Liberal, Montenegro deu um valente tiro nos próprios pés. Invocando a seriedade e responsabilidade política para tal efeito, Montenegro pactua com um último ano desastroso do governo de Costa e transmite aos portugueses a mensagem de que se estivesse no lugar deste entenderia igualmente como normal 12 (depois 13) demissões em nove meses de mandato de uma maioria absoluta! E que também não se demitiria do cargo de primeiro-ministro!
O facto de ter apoiado posteriormente a proposta de inquérito parlamentar à gestão da TAP, promovida pelo BE e pelo Chega, não o iliba de um crasso erro estratégico.
Montenegro tomou conta do PSD em 28/05/2022 e refere que só em 2024 (???!!) terá um programa eleitoral devidamente formatado para apresentar ao país… Ora, isto diz tudo da bondade angelical de Montenegro face a Costa, ou seja, até 2024 nada tem para dizer aos portugueses no sentido de estes poderem confrontar as suas opções com a inexistência de qualquer opção por parte de Costa. Montenegro é o segundo Anjo de Costa!
E finalizamos com o terceiro e mais relevante dos anjos de Costa: Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.
Sete anos depois de Costa ter assumido o poder, com o país a definhar na cauda da Europa, os jovens sem emprego a fugirem para fora, a Educação num caos, a Saúde numa miséria, a corrupção a grassar, o Anjo Marcelo ainda acredita no Pai Natal e dá o benefício da dúvida a Costa por mais um ano!
Relembremos aqui que um seu antecessor, de nome Jorge Sampaio, levou a cabo um verdadeiro golpe de Estado ao demitir o Governo de Santana Lopes, quatro meses apenas após a sua tomada de posse… e por razões bem menos graves do que as que têm ocorrido ao longo dos diferentes mandatos de Costa!
Sampaio não se coibiu de estender a passadeira vermelha ao então jovem turco socialista José Sócrates, com as inevitáveis consequências posteriores que ainda sofremos e que as próximas gerações irão pagar. Cavaco também deixou Sócrates deslizar de mais… até à sua detenção.
Agora Marcelo acende velinhas para que Costa faça num ano aquilo que sobejamente demonstrou não saber fazer nos anteriores sete anos. Costa não é um fazedor, mas tão somente um manobrador, e Marcelo, entre as suas idas a banhos e as incansáveis viagens de “Falcon” a desbaratar o erário público, aquece-lhe o dorso.
As palavras mais frontais e azedas ultimamente proferidas pelo Presidente de nada valem sem acções. Marcelo é conivente com Costa no desastre nacional.
É o seu terceiro e principal Anjo da Guarda! Em versão antítese do Arcanjo Miguel!
E “Charlie” agradece! ■