PS: dizer uma coisa e fazer outra

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Uma das coisas que mais me impressiona nos governos do PS dirigidos por António Costa é a facilidade com que dizem uma coisa e fazem outra. Ou a naturalidade com que todos os seus dirigentes, a grande família socialista, fazem diariamente afirmações não sustentadas na realidade, ou que são uma efabulação dessa realidade. Ou ainda como procuram criar a ideia de que defendem os mais pobres e desprotegidos, enquanto as suas práticas vão no sentido de proteger os mais poderosos. Por isso, como os leitores já sabem que não faço afirmações que não possa demonstrar, aqui vai a demonstração.
Ambiente – Nas palavras o PS está na linha da frente das políticas ambientais, mas quando se olha para a realidade a imagem é bem diferente. Próximo do local onde vivo, em Miraflores, estão a ser construídos cinco prédios enormes ao lado de um belo jardim e ao longo de uma ribeira que é parte das cheias que ainda recentemente tivemos em Algés. Faço férias em Troia, uma área protegida, que o PS diz ameaçada pela subida das águas do mar, mas durante os últimos anos toda a península está a ser betonada nas próprias dunas que se diz querer proteger, autorizando enormes explorações turísticas, umas já existentes há alguns anos e outras em construção. Portugal é o país com mais auto-estradas onde se consomem energias fósseis e menos ferrovia onde se consome electricidade. Fechámos as centrais a carvão e passámos a importar electricidade de Espanha produzida nas centrais a carvão ou na odiada, pelo PS, energia nuclear.
Telecomunicações – O PS diz defender a democratização dos sistemas de informação e a televisão é o seu meio de propaganda mais utilizado, todavia as três empresas de telecomunicações constituem um oligopólio com os preços mais caros da União Europeia – subiram mais 7% este ano – e o infame sistema de fidelização é mantido pelo Governo contra a opinião contrária da entidade reguladora. Tudo à custa dos clientes que, ainda por cima, são mal servidos por máquinas em vez de pessoas.
Serviço Nacional de Saúde – O PS afirma-se como o maior defensor do SNS, mas durante os últimos oito anos bateram-se todos os recordes de crescimento dos seguros privados de saúde e as empresas privadas de saúde tiveram o seu maior crescimento de sempre. Cada vez mais portugueses são forçados a recorrer aos serviços privados.
Sociedade e economia do conhecimento – Trata-se de um objectivo abundantemente declarado pelo PS, mas na realidade mais de 100.000 jovens licenciados com elevadas qualificações deixam o país em cada ano e são substituídos pela mão-de-obra barata dos imigrantes que nos chegam de todo o mundo e sem qualificações.
Educação – O PS consome-se na afirmação da defesa das famílias mais pobres, mas o acesso ao ensino é pior e mais caro nas creches e no pré-escolar do que na universidade, frequentada principalmente por camadas da população de maiores recursos. Com a nota de que seria nas creches e no pré-escolar que mais rapidamente e de forma mais económica seria possível terminar com as causas da pobreza e da ignorância que minam a economia e a sociedade portuguesas.
Justiça e corrupção – O PS defende a separação de poderes, base dos regimes democráticos, mas apressou-se a nomear para a Procuradoria-Geral da República uma direcção mais amiga e menos eficaz, enquanto vai colocando na Polícia Judiciária mais alguns militantes e amigos socialistas. Diaboliza o juiz Carlos Alexandre que não poupa os corruptos, enquanto uma mão invisível protege o juiz Ivo Rosa que conseguiu limpar quase todos os crimes de que eram acusados José Sócrates, Ricardo Salgado e restantes companheiros. Finalmente, o PS assiste imperturbável ao crescimento da corrupção e à incapacidade da Justiça para, através de ministras faz-de-conta, iludir todos os problemas do sector. Talvez seja útil alguém coligir a longa lista dos acusados pela Justiça de corrupção que ainda não chegaram a julgamento.
Leis eleitorais – O PS afirma-se como o grande defensor da democracia, mas nega aos portugueses o direito de escolherem, ou negarem, os deputados em eleições livres, mantendo essa escolha dependente dos directórios partidários, além de assistir feliz e contente a que cada vez menos portugueses exerçam o seu direito de voto. Ou que cada vez mais portugueses vejam negada a sua participação na vida democrática, enquanto cada vez mais socialistas e amigos de socialistas preenchem tudo o que seja cargo público.
Economia – O PS passa a vida a festejar o sucesso da economia socialista, apesar de mais de vinte anos de estagnação económica, de três pedidos de ajuda externa, de uma dívida enorme da autoria dos seus governos, das exportações serem resultantes de sectores criados há anos pelos governos de Cavaco Silva e do país, ano após ano, perder posições em relação aos outros países europeus que entraram na União Europeia depois de nós. Além de que, gostando muito das PMEs, o PS conseguiu que as pequenas empresas sejam mais de 90% do total, não cresçam e não exportem. Ou seja, o modelo ideal para uma economia de baixos salários e de baixas exportações, as mais baixas da União Europeia entre os países da nossa dimensão e com pequenos mercados internos.
Transparência – O PS proclama a transparência, mas acaba de minar as conclusões do inquérito à TAP, não responde a muitas das questões dos partidos da oposição e dos meios de comunicação, além dos cidadãos, e quando se trata de criar instituições para garantir a transparência, o Governo anda há anos a procurar instalações e agora o problema deve ser a falta de mobiliário.
Habitação – António Costa não se cansa de falar do direito à habitação, mas durante os últimos oito anos o problema da habitação não parou de aumentar e agora criou um conjunto de leis absurdas que são a melhor garantia de que o Governo não resolverá nenhum problema das famílias mais pobres, apesar de não faltarem casas para quem tiver dinheiro para as comprar. Trata-se do modelo de responsabilidade social do PS.
Interesse nacional – O PS reivindica ser o partido que defende o interesse nacional, mas deixou que a EDP vendesse as barragens aos franceses, para mais sem o pagamento dos impostos devidos, e atraiçoa o interesse nacional ao não aproveitar os apoios europeus destinados à construção de ligações ferroviárias à Europa, apenas para proteger os monopólios da CP e da “Medway”.
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Em resumo, a grande família socialista faz da mentira a sua principal competência política, enquanto compromete o futuro do país através da incompetência dos seus dirigentes. ■