Quem casa, quer casa! E quem tem, fica sem?

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Em Portugal existem muitos mitos e um deles é acreditarem na tese de que as maiorias absolutas são necessárias e fundamentais para fazer reformas estruturais no nosso país, mais se acrescenta que esta maioria está longe de significar tranquilidade e zelo político. Estamos apenas a ganhar em protestos, cada vez mais intensos nas ruas, assim como tentativas de reformas estruturais que são apenas um pretexto para nada fazer e muito comunicar, mas que em nada vão dar!

Este é um Governo frágil, concentrado em reagir e ausente de planeamento sustentado. Vamos falar das casas dos portugueses, os que já tinham empréstimo ao banco e estiveram adormecidos pelas moratórias e agora acordados pelo aumento dos juros – um despertar no mínimo assustador – e os que vão agora tentar a sua sorte e verificam que a sua taxa de esforço não vai permitir o empréstimo para aquisição de uma habitação. Sem falar, claro está, nos que nem à banca podem recorrer.

Mas o guião não começa nem termina por aqui. A escassa oferta está associada não só à redução significativa na construção, como ao aumento da matéria-prima e à escassez de mão-de-obra. A probabilidade de estes factores se virem a reflectir no preço das casas é demasiado evidente. Apesar das notícias que o Governo faz circular associadas as verbas do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) destinadas à edificação, pouco ou nada foi feito. Onde está o planeamento e o cronograma de execução? Se neste momento apenas foi executado 3% e restam três anos para executar 2,7 mil milhões de euros, será uma vez mais uma acção de reacção e em nada sustentável, como nos habituaram neste Governo. Sabemos que em 2022 foram transaccionados 168 mil imóveis na área residencial, onde 90% destes imóveis eram usados.

O presidente da APEMIP – Paulo Caiado – defende que é um erro descer o preço das casas. Afinal estamos a falar do património e da maior reserva das famílias portuguesas no que é o seu esforço e poupança. Estamos a falar de mais de 70% de famílias que perdem riqueza de forma imediata, caso se execute a descida de preços, o que, na realidade, estudos apontam que nas grandes cidades o aumento foi perto dos 7% e apenas nas zonas periféricas existiu um aumento de mais de 30%, aquando da maior procura, pela fuga durante a pandemia para zona mais semi-rurais.

A questão de num determinado momento, após anos de pagamentos, a dívida ao banco seja superior ao valor da casa, coloca as famílias portuguesas novamente em apuros. Não esquecendo que as rendas das casas podem não se tornar mais acessíveis, como assim deseja o Governo. Com o a aumento dos juros, a inflação, o aumento das matérias-primas e a falta de mão-de-obra, jovens que procurem a sua primeira habitação estarão provavelmente numa situação fragilizada e não acredito que as rendas vão baixar, mas sim o contrário.

• Leia este artigo na íntegra na edição em papel desta semana já nas bancas •