Canadá, um país em busca de identidade

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Francisco Henriques da Silva

Embaixador

O multiculturalismo, de mãos dadas com o “politicamente correcto”, pode conduzir a que as massas de imigrantes jamais sejam absorvidas pelo Canadá e se criem sociedades paralelas, prejudiciais ao desenvolvimento harmónico do país, verdadeiras forças centrífugas que podem levar à implosão social. Uma lição a aprender.

Para quem já tinha vivido nos Estados Unidos durante vários anos, como eu, quer a título profissional, quer inclusive como adolescente, o Canadá assemelhava-se-lhe como uma pena: a mesma língua com sensivelmente a mesma pronúncia (excepto nos bastiões francófonos: Québec, partes de Ontário e de New Brunswick), a “common law” de origem britânica (ou seja, o direito consuetudinário e a jurisprudência), a prevalência do mesmo espírito anglo-saxónico, os grandes espaços, os mesmos produtos nos supermercados e nos “shoppings”, a mesma mentalidade, em suma.

A população concentra-se numa banda de 100 a 150 quilómetros que acompanha a linha de fronteira com os Estados Unidos, onde se encontram as principais cidades do país e se desenvolvem as principais actividades económicas. Passada essa banda, relativamente estreita, dada a incomensurável imensidão do país, as aldeias e as casas começam a escassear e transcorridas mais umas centenas de quilómetros entramos no Grande Norte.

Atento o quadro descrito, a coluna vertebral do Canadá seria a linha de caminho-de-ferro que une o Atlântico ao Pacífico, que é o grande traço de união entre o Leste e o Oeste, passando pelo “coração” do país constituído pelas províncias do Ontário e do Québec, as mais populosas, as mais ricas e as que historicamente lhe conferiram a certidão de nascimento. Todavia, a lógica económica é outra – e, assim, a conexão Norte-Sul é, no fundo, a que faz mais sentido: as províncias marítimas têm uma relação estreita com a Nova Inglaterra, bem como o Québec com essa mesma região e com o estado de Nova Iorque, o Ontário com os Grandes Lagos, os estados das grandes planícies com os estados congéneres dos EUA, as Rochosas logicamente com o seu prolongamento para Sul e a Colúmbia Britânica com a região do Pacífico estado-unidense. Não é necessária uma grande explicação para esta situação, basta vivê-la quotidianamente no Canadá: a relação Norte-Sul é a que faz mais sentido.

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