NUNO ALVES CAETANO
A falta de patriotismo do PCP e do BE é facto indiscutível e que nem os próprios, apesar de alguns esforços, se preocupam muito em esconder, e que se manifesta sobretudo nos discursos mais emotivos e mais exacerbados.
As incongruências igualmente fazem parte da sua natureza, tendo como bandeira a contradição entre a doutrina da “Ditadura do Proletariado” constante nas suas essências ‘versus’ auto-intitularem-se de “democratas”. Gostava que me explicassem – e sobretudo o fizessem ao seu eleitorado – como é que uma ditadura é democrática…
Já o PS, apesar de em diversas fases da sua existência ter feito oficialmente acordos com ambos os partidos – com o PCP ainda antes do 25 de Abril e com o BE para a Câmara Municipal de Lisboa – sempre tentou manter uma postura inserida no espírito de liberdade e pluralismo político, desde logo ao apoiar o posicionamento europeu de Portugal e o seu papel na NATO.
É pois com alguma perplexidade que se assiste a este desvario do seu secretário-geral, secundado por alguns camaradas, como consequência da estrondosa derrota do partido nas eleições de 4 de Outubro.
Recordemos algumas frases proferidas por António Costa antes das eleições, referindo-se sobretudo ao BE, mas também ao PCP:
- “PCP e BE são meros partidos de protesto” (entrevista ao “Correio da Manhã”);
- “O desnorte do BE que se tornou num partido inútil…” (entrevista à SIC)
- “Não podemos estar na política só para produzir retórica. Sempre fui um moderado e um social-democrata. O BE só produz discursos mas é incapaz de resolver o problema de uma pessoa…” (frente a frente com líder do BE);
- “O BE é um partido oportunista que parasita a desgraça alheia e incapaz de assumir as responsabilidades…” (entrevista em 28 de Fevereiro de 2009).
Só por si estas declarações são elucidativas, mas a estas, umas tantas outras se poderiam acrescentar.
É pois com este partido – Bloco de Esquerda –, o tal “oportunista”, “incapaz” ou “inútil” que António Costa pretende fazer uma coligação, incluindo também o Partido Comunista, o tal “meramente de protesto”, com vista a (des)governar novamente Portugal, desta feita com muito pior resultado do que nas suas anteriores legislaturas que, como é sabido, levou o país à bancarrota.
O PCP, que não tem qualquer pudor em se pronunciar contra o voto de congratulação pela queda do muro de Berlim, postura demonstrativa da sua total e completa afirmação anti-democrática, sempre se manifestou contra a presença de Portugal na Comunidade Europeia e adesão ao Euro.
O BE, igualmente contra estes dois factores políticos, há uma semana, em comunicado oficial do partido, anunciava o seu desacordo pela integração de Portugal na NATO – de que é membro fundador – e repúdio pelos exercícios militares a realizar em Beja.
Qualquer um dos partidos tem todo o direito de assumir posições e de anunciá-las ao seu potencial eleitorado, devendo contudo fazê-lo sem qualquer tipo de equívocos ou dúvidas, sufragando-as posteriormente, e não é isso que está em causa, particularmente.
O que está em causa é o facto de o PS, única e exclusivamente por razões partidárias e de tentativa de sobrevivência, se dispor a aliar a estes dois partidos com cuja génese nada tem em comum e que desde logo todos sabemos ser impossível de gerir a médio prazo. Alguém de bom senso acredita na boa vontade e boa fé de partidos totalitários que não renegam sequer o terrorismo?
Ao assumir este papel, ao invés de, patrioticamente, viabilizar um governo de estabilidade que permitisse a recuperação do país e consequentemente o alívio dos sacrifícios pedidos aos portugueses, o PS, nomeadamente na pessoa de António Costa e seus delfins, deixa cair a máscara, mostrando claramente ao país que existe para servir interesses pessoais e não interesses nacionais.
Os partidos, sobretudo os seus interlocutores, ou seja, os políticos, têm definitivamente de compreender que o País é para se servir e não existe para pessoas ou colectividades (leia-se partidos) se servirem dele. A ordem dos factores está alterada e há que invertê-la rapidamente.
Seria um serviço de relevo para Portugal se os socialistas que não têm a dignidade à venda obrigassem a deixar cair a máscara da escória socialista.