Futuro da energia pode começar na nossa costa

0
3530

A primeira eólica ‘offshore’ do mundo foi inaugurada na vila de Aguçadoura e é notícia na imprensa internacional. Está instalada ao largo da Póvoa de Varzim, é flutuante e na fase experimental já abastece mais de mil lares.

O sistema Windfloat, projecto da EDP Inovação, instalado a seis quilómetros da costa portuguesa, na praia de Aguçadoura, desde o ano passado, já produz energia para 1.300 habitações, sendo a primeira plataforma ‘offshore’ do mundo, num investimento de mais de 20 milhões de euros.

Um ano depois de ter começado a produzir energia, a eólica experimental instalada em Aguçadoura, Póvoa de Varzim, abastece mais de mil casas e provou resistir a ondas grandes. Trata-se de uma estrutura eólica única no mundo porque flutua e, assim, não tem os alicerces presos ao fundo do mar.

A EDP está convencida de que, mais tarde ou mais cedo, estas eólicas flutuantes vão ser úteis em zonas de maior profundidade e uma mais valia no mercado internacional. Para já, é preciso continuar os testes, mas em 2015 ou 2016 poderão ser instaladas mais eólicas deste tipo no mar português.

O Mundo está de olhos postos neste projecto. É de extrema importância que tudo corra pelo melhor. Até porque a Inglaterra se mostra interessada em adoptar o projecto português já em 2015. A imprensa mundial dá eco deste avanço nacional que, a resultar, poderá virar mais uma página na política de energias renováveis, mas também na melhoria da economia.

Por cá, estaremos a falar na criação de cerca de “oito mil postos de trabalho”. A convicção é do director do departamento EDP Inovação. Além de “mudar a forma como Portugal tira proveito da sua costa marítima”, João Gonçalo Maciel acredita que a energia eólica poderá ainda “revitalizar vários sectores da economia nacional”, como a “construção e a reparação naval”, ao criar milhares de postos de trabalho, “valorizando ainda as empresas nacionais e internacionais”.

Já a nível europeu, prevê-se que esta indústria sustente, nos próximos anos, cem mil empregos.

Após a sua instalação ao largo da costa da Póvoa de Varzim, o “WindFloat” será “monitorizado” por um período de cerca de dois anos, de forma a “garantir a sua operacionalidade”, frisou João Gonçalo Maciel.

Direito de comercializar

Com os primeiros dados bastante positivos, a EDP, que tem os direitos assegurados da comercialização desta tecnologia, pôde avançar para a construção de um mini-parque, com cerca de cinco unidades, que “valide conceitos a uma escala maior”.

O próximo passo será avançar com a “comercialização” do equipamento, uma vez que a EDP está a apostar na “criação de competências que possibilitem iniciar uma capacidade produtiva nesta área”.

Para este projecto, a EDP conta ainda com parcerias da americana Principle Power Inc, do fabricante de turbinas dinamarquês Vestas, da metalomecânica A. Silva Matos S.A., bem como do fundo de capital de risco do Estado português, InovCapital S.A.

O financiamento para a instalação desta estrutura foi assegurado pelas empresas envolvidas e contou ainda com um subsídio a fundo perdido do Fundo de Apoio à Inovação.

O “WindFloat” é uma tecnologia semi-submersível, semelhante a uma plataforma petrolífera com três pilares, sendo que num deles é instalada a torre eólica, com uma turbina.

Tem a vantagem de ser totalmente montada em terra e, posteriormente, rebocada até ao local onde produzirá energia, ou seja, a seis quilómetros da orla litoral, a cerca de 60 metros de profundidade. Para já, só na Póvoa de Varzim.

As freguesias mais próximas desta estrutura são Aguçadoura, na Póvoa de Varzim, e Apúlia, Esposende.

A plataforma permite a produção de energias limpas, gerando energia renovável e, até ao momento, “tem funcionado da melhor maneira”, referiu António Vidigal, administrador da EDP Inovação. Para o futuro, ambiciona-se a construção de um parque com cinco turbinas, gerando uma potência proporcionalmente maior.

Desenvolvimento local e mundial

Durante a inauguração, Macedo Vieira, presidente da Câmara Municipal da Póvoa, destacou a projecção da vila de Aguçadoura a nível nacional, primeiro pela sua actividade hortícola, e agora por ter “a sorte de ter este modelo industrial que eu espero que seja um sucesso para o País, para a EDP, para a Póvoa e Aguçadoura. Dependemos imenso da energia e espero que isto seja um grande contributo para as energias renováveis e para que Portugal possa estar menos dependente”.

Já para Sérgio Cardoso, presidente da Junta de Freguesia de Aguçadoura, este dia foi especial: “Foi a primeira vez que tivemos a visita de um Presidente da República”. O autarca salientou ainda a projecção internacional do projecto, pensando já no futuro: “o conjunto dos cinco equipamentos será rentável e pode ser comercializado. Acho que é uma boa notícia para o futuro do País no campo das energias renováveis. A esperança é que no futuro o investimento aqui continue e do que ouvimos hoje vai tudo nesse sentido”.

O Presidente da República, Cavaco Silva, sublinhou que “a Póvoa ficará ligada a um passo de gigante no aproveitamento das potencialidades energéticas em matéria de energia eólica ‘offshore’, dará um contributo importante a nível de dependência externa e consequentemente para a redução do nosso endividamento externo”, salientando ainda as potencialidades do mar no desenvolvimento do País e apontando-o como o caminho para o futuro.

Para o administrador executivo da EDP, António Mexia, é importante “o aproveitamento dos recursos próprios”, como o mar e os estaleiros navais. No mesmo sentido, lembrou que o projecto resultou da parceria de 60 empresas, das quais 40 nacionais, num trabalho global para a primeira plataforma a nível mundial. “Só conseguimos vencer a adversidade quando tomamos medidas para mudar. Estamos a falar daquilo que pode criar a diferença, mais oportunidades para este País”. No seu entender, o futuro de Portugal será determinado por três factores: “ou porque temos recursos próprios, ou porque somos melhores nos processos ou porque temos capacidade de inovação. Neste caso, conseguimos juntar as três coisas”.