O óbvio ululante da crise brasileira

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O governo Lula não esperou nem a lua de mel dos cem dias. Está a desgastar-se com grande velocidade na economia, em breve no social e, por fim, no político.

A maioria obtida no Parlamento não tem origem no grupo vencedor da eleição presidencial. Os senadores e deputados do centro para a direita formam ampla maioria. Pragmáticos, apoiam todos os governos, desde que não se desgastem e colham repúdio popular. Em casa que falta pão, todos brigam e não existe união, é a voz do povo.

O governo reduziu as privatizações, algumas importantes, como a do Porto de Santos, já parcialmente nas mãos do sector privado, com excelentes resultados e muitos mil milhões investidos. O metropolitano de Belo Horizonte está sem expansão e requer muito dinheiro, que o governo não tem. A privatização está embargada pelo governo Lula e não se cogita vender os de Salvador e Recife, sem recursos para atenderem aos projectos iniciais. A Petrobras interrompeu a venda de algumas refinarias que precisam de grandes investimentos, mas Lula já disse que não vai vender. Ocorre que o Brasil deveria aumentar de imediato a sua capacidade de refinação, pois tem importado gasolina e diesel.

Tendo praticamente dobrado o número de ministérios, colocando indicações políticas nas empresas públicas, as despesas vão aumentar. As empresas públicas com Bolsonaro deram lucro, pois tiveram gestão profissional e não política.

O discurso não unificado da equipa também tem gerado problemas. E o apoio que as esquerdas sempre tiveram nos “media” já não é o mesmo. Todos alegam que o apoio não era a Lula, mas sim para afastar Bolsonaro.

Os recursos fora do orçamento aprovados para este ano vão reflectir-se nos mercados. A dívida pública cresce e o Banco Central, hoje independente, não vai permitir a venda de reservas em moedas fortes, como Dólar e Euro.

O carisma de Lula tem dado sobrevida a escolhidos com problemas na justiça. Mas ele não poderá manter este aval diante do crescimento de denúncias e levantamentos comprometedores para ocupantes de altos cargos. A revogação de decretos e portarias de Bolsonaro também gera insatisfeitos.

Na tempestade, o comandante do barco não deve ter acções bruscas, mas prudentes. O Brasil, disse um veterano na polícia, já não é um barquinho com furos, é um transatlântico e, por tal, não suporta simples emendas. O importante é não deixar entrar água. A economia não terá como atrair investimentos com este ambiente hostil ao capital. Pelo contrário, pode haver retracção de investimentos, com reflexos no emprego e na receita fiscal.

No mais, as atenções estão voltadas para a reacção do governo diante de pedidos de ajuda dos países bolivarianos em crise e muito próximos de Lula. A Argentina já teria pedido ao Brasil para comprar cinco mil milhões de dólares de títulos de sua emissão, em queda nos mercados.

O ano promete tempestades de toda ordem.