JOÃO FILIPE PEREIRA
António Costa quer boicotar o seu próprio Orçamento. Só assim se entende que aquele que se apoderou do cargo de primeiro-ministro venha aconselhar o povo português a fugir dos produtos que vão sofrer maior carga fiscal.
Para quem perdeu a pérola socialista, António Costa aconselhou os portugueses – qual chefe de família – a usarem “mais transportes públicos”, a deixarem de fumar e a moderarem” o recurso ao crédito. Lamenta-se que o homem que ainda vê em Passos Coelho o chefe de Governo venha aconselhar os portugueses a consumirem menos devido ao aumento de impostos que ele mesmo criou.
O tom paternalista assumido pelo socialista é de alguém que andou distraído nos últimos oito anos. Os portugueses há muito que aprenderam onde cortar. Foi na saúde, na educação, na alimentação, foi no tabaco, no álcool, nos empréstimos e até nos laços com o País. Não precisamos dos ensinamentos ditados pela pessoa que acaba de aumentar impostos.
Portugal necessita de aumentar a riqueza e não de empobrecer. Essa ideia lunática impingida pelo capital mundial sem cara já foi desmascarada pelo próprio FMI e União Europeia. Aliás, duas instituições que foram precursoras dessa mesma idiotice.
O líder do actual Governo português – que conta com o apoio de cinco partidos no Parlamento – tem de explicar aos contribuintes e à indústria nacional do tabaco porque é que quer fechar negócios das tabaqueiras e aumentar assim o número de desempregados. Que explique aos contribuintes e às empresas como se pode viver sem o recurso ao crédito quando o Estado e as Autarquias não pagam a tempo e horas. E que explique também como é que as empresas de transporte, os vendedores e trabalhadores que dependem do seu automóvel como ferramenta de trabalho poderão diminuir os seus gastos com combustível. Parando de trabalhar? Encostando as viaturas? Já saiu Costa de Lisboa ou do Porto? Que transportes públicos têm os restantes portugueses? Costa fala para Lisboa e Porto como se isso fosse Portugal. Portugal é muito mais. É maior, engloba mais gentes e mais realidades. Realidades que os tacanhos que não saem dos gabinetes desconhecem.
Mas António Costa não é caso único na arte exímia de aconselhar – que parece que ganhou fôlego depois da crise de 2008.
Passos Coelho também teve o seu momento de sabedoria ao aconselhar jovens e professores a emigrar. Em 2011, o então primeiro-ministro sugeria que os professores desempregados emigrassem para países lusófonos, realçando as necessidades do Brasil. Jovens, desempregados e professores. Todos foram alvo de declarações de membros do Governo incentivando-os a procurarem emprego onde existe: lá fora. Ou no meu caso: cá fora.
Não precisamos de políticos que constatem o óbvio. Precisamos de líderes que encaminhem Portugal para o caminho do crescimento