Costa ignora, e não devia

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“O meu adversário é Rui Rio”. afirmou António Costa ao Expresso no passado fim-de-semana.

Entende-se o objectivo de Costa: desestabilizar o PSD, pressionar o Governo e estimular Rui Rio a iniciar o seu assalto ao poder e à cadeira de Coelho na liderança do partido.

Mas ignora, o ainda Munícipe de Lisboa, que as suas palavras soam como um acto falhado e podem ter uma outra interpretação.

O rival de Seguro à liderança do PS tem uma visão do País para os anos futuros no que concerne à tomada de poder: Guterres em Belém, ele em S. Bento e Rio o senhor da Buenos Aires.

Um trio de poder para os próximos anos em Portugal, determinando que Cavaco, Coelho e Seguro são já figuras de um passado recente.

É arrojada a visão de Costa. É, sem margem para dúvidas, uma ousadia política e quiçá uma manifestação arrogante de poder pessoal do seu autor ou pelo menos de como ele se imagina.

Costa, muito para lá dos seus méritos e do apoio dos media e dos opinion makers do sistema, começa a revelar os sinais perigosos do Homem Providencial, do Profeta, do Messias dos nossos dias.

Mais do que o Desejado – como alguns o promovem – que irrompe no matinal nevoeiro, acabado de chegar ao Cais das Colunas, ao som dos Hossanas populares e dos ansiosos pregões de “O Costa chegou à costa…!!!”, o autarca de Lisboa, qual profeta na sua terra, já dá por consumado o fim de Passos Coelho.

Ora, não só tal não é verdade, como é discutível que venha a acontecer. As sondagens dão sinais contraditórios e Rui Rio não é um aventureiro que se atire ao assalto ao poder dentro do PSD sem ter garantias de vitória.

Mas Costa, ao ignorar Coelho, pode estar a cometer um grave erro político pois poderá ter mesmo que vir a disputar as eleições legislativas com o actual líder social-democrata e a ter que engolir a sua deficiente previsão.

A política portuguesa está a incandescer e o aproximar dos próximos escrutínios eleitorais cerceia a qualidade do pensamento e condiciona a acção dos principais agentes políticos.

Lamentavelmente, são mais as semelhanças com os idos tempos do rotativismo político dos finais do século XIX – com os resultados que se conhecem – do que com o desejável tempo em que os líderes da Política se assumem como Homens de Estado, verdadeiros Estadistas, dispostos a dar o melhor de si pelo país.

Costa ignora, e não devia, que os portugueses mudaram a sua percepção sobre a acção política e manifestam sinais de não querer mais do mesmo, muito menos de votar apenas na confiança pessoal ou na imagem providencial de quem assim se ousa apresentar.

Portugal precisa de quem esteja disposto a fazer tudo o que pode por ele e não a ficar à espera egoisticamente do que o país possa fazer por si.

Portugal está cansado de criadores de ilusões.

Costa não pode ignorar que os mesmos que cantaram Hossanas ao Messias, que entrava em Jerusalém, foram os mesmos a escolher, dias depois, Barrabás em detrimento do ungido.