Das expectativas e das incertezas

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 Luísa Venturini

William Archer (1856-1924) foi um dramaturgo e crítico de teatro escocês. É conhecida uma máxima sua que pode ser lida como um conselho aos autores: “Drama is anticipation mingled with uncertainty”. De facto, na língua inglesa, o termo “drama” corresponde ao texto em prosa ou verso que se destina a ser representado (tragédia, comédia farsa, melodrama), mas, tal como na língua portuguesa, pode ter uma conotação mais alargada, incluindo não só um género literário como qualquer situação que envolve conflito, sofrimento e aflição.

Aproprio-me da frase de Archer e sinto que, de facto, se enfrenta drama quando estamos num estado de expectativa combinado com incerteza.

Nos tempos que correm, eu sei que a lógica me aconselhará a continuar a alimentar uma certa serenidade, a evitar que me assomem pensamentos mais ou menos especulativos, a repetir-me que não me adianta o sobressalto, porque do estendal tremendo que constitui o que “é”, sinto-me afundada na mais profunda ignorância, pois só me é dado ver o que “parece ser”.

Mas o exercício, garanto, não é nada fácil. Há demasiado ruído, demasiadas legendas simultâneas, demasiadas imagens sobrepostas e, quer queira quer não, percorre-me uma corrente desagradável, como se tivesse estado exposta a mensagens subliminares, de acutilância e intensidade muito peculiares.

Mais difícil se torna, quando me entram pelos olhos e pelos ouvidos enxurradas de opiniões, quase todas a arvorarem uma segurança indiscutível, apesar de estarem tão nimbadas como quaisquer outras do sentido primordial do termo grego: não passam de ideias confusas sobre a realidade.

Assim, com a incerteza de não conseguir ver o estendal do meu pequeno parapeito, fico nesta expectativa de vir a alcançar o desejado conhecimento e a interrogar-me, quase involuntariamente, quanto ao que ele me revelará.

Recuso-me, no entanto e para meu bem, a opinar nem que seja para mim própria, pois, para confusa, já me basto assim.