Quanto vale um aliado em posição estratégica?

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Manuel-Silveira-da-Cunha-av-115x150Manuel Silveira da Cunha

 

A inenarrável actuação europeia na questão grega e a imposição de medidas idiotas, como as da austeridade cega acompanhadas de taxas de juros agiotas, levaram a Grécia para os braços da esquerda radical.

Esta mesma esquerda que, na sua lógica revolucionária, não se preocupa minimamente com a saída da Grécia do euro, com a sua saída da Nato e com a ligação ao eixo ortodoxo oriental, afinal o mesmo eixo onde a Grécia se insere desde há quinze séculos e que liderou durante mais de mil anos, desde Constantino até à queda de Bizâncio.

Se a Grécia sair da Europa e entrar na esfera de Moscovo gerar-se-á um novo equilíbrio na região, com a possibilidade de situações muito problemáticas com a Albânia, o Kosovo e, sobretudo, com a situação da Turquia, pressionada pela Rússia em duas frentes. Entregar a Grécia aos bandidos, de bandeja, é de uma irresponsabilidade e falta de visão estratégica verdadeiramente confrangedoras. Ver como líder de um Eurogrupo alguém que mentiu no currículo, afirmando que tinha um mestrado que nunca teve, e no resto do bando um grupo de amadores ignorantes de geoestratégia e história universal, quando já se sabia que nenhum era um estadista, mete dó e promete uma morte rápida do projecto europeu.

Os americanos resolveram a sua crise financeira sem medidas de austeridade, resolveram imprimir notas, e quando Estados, como a Califórnia, entraram em bancarrota foram solidários e cederam fundos sem juro. Se Obama fosse um estadista já teria emprestado todo o dinheiro necessário à Grécia a taxas de juro zero. Se os alemães que mataram, aterrorizaram e escravizaram mais de metade da Europa e foram responsáveis por mais de oitenta milhões de mortos levaram com o plano Marshall, os gregos apenas aldrabaram nas contas, com a conivência dos restantes países. Será pecado que lhes mereça as sete pragas do Egipto?

Uma Grécia na esfera ocidental teria valido uns trezentos mil milhões de euros, afinal menos de metade do pacote de ajuda à banca que custou a simples falência do Lehmann Brothers, dólares que foram simplesmente impressos a partir do nada e que tiveram a vantagem de acelerar a recuperação e aumentar as exportações americanas e que acabaram por levar à desvalorização actual do Euro! Poder-se-ia ter dado o dinheiro contra algumas medidas de rigor orçamental e controlo pelos órgãos da troika. Agora é tarde e a esquerda radical instalou-se, a sua lógica é diferente. E com as medidas do costume e líderes incapazes, a Europa perdeu-se.

Gambas e empregado de mesa penhorados

Todos os totalitarismos acabam por cair no ridículo. Com excepção dos desgraçados que acabam vítimas da opressão, todo o mundo se ri do fisco português ao ler a seguinte notícia: umas “gambas panadas com molho de laranja à parte”, uma “salada verde” (alface e chicória), um “bacalhau com espinafres gratinado”, um “cheesecake com coulis de frutos vermelhos”, “pãezinhos” (couvert incluído), um “empregado de mesa (pack ‘almoços corporate’)” e uma “entrega dentro de Lisboa” foram penhorados pelo Serviço de Finanças de Viana do Castelo.

Não sabemos quais os serviços a que o chefe de finanças de Viana do Castelo destina o empregado, nem como vai prover ao seu sustento, mas o que é certo é que o moço foi incluído na penhora. O nazismo fiscal deste governo continua a dar que falar, a ilegalidade e arbitrariedade são constantes e as penhoras ditas “automáticas” caíram num ridículo que, infelizmente, mascara a vergonha da actuação dos serviços fiscais portugueses. É sabido que se os contribuintes recorrerem para os tribunais verão as acções do fisco revogadas, mas muitos não terão dinheiro para combater a máquina impessoal e trituradora em que as finanças se tornaram.