Galamba: só mais um socrático típico do PS

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João Galamba, bem vivo politicamente e com milhares de milhões de euros dos nossos impostos à disposição para esbanjar em energias renováveis – como Sócrates fez quando tinha vida política –, é apenas mais um herdeiro da longa tradição da actual direcção do PS em censurar e pressionar a comunicação social, para que esta apenas elogie o Governo, sem nunca nada questionar ou investigar. 

Recordemos que Armando Vara, quando Sócrates o promoveu a administrador de bancos – sem quaisquer competências para tal, como demonstrado pelos 20 mil milhões de euros que neles perdemos até hoje –, tentou fechar o semanário “Sol” devido às perguntas incómodas deste. Sócrates ofendeu e perseguiu a jornalista Manuela Moura Guedes para que esta não investigasse actividades que, sabemos hoje, estavam ligadas à corrupção. Também Costa, desde a investigação sobre os 600 milhões de euros desaparecidos no SIRESP – inexplicavelmente pago a peso de ouro para um serviço de barro –, fez pressão, durante anos, sobre a administração da TVI contra Ana Leal, até esta ser obrigada a demitir-se, no final de 2020. Sem surpresas e nessa mesma senda socrática-costista, João Galamba, recentemente fez pressão sobre uma das maiores jornalistas de Portugal, Sandra Felgueiras, da RTP, insultando, na rede social “twitter”, o programa desta, “Sextas às 9”, classificando-o de “estrume” e “coisa asquerosa”.  

É normal um governante do PS achar que pode gastar milhares de milhões dos nossos impostos sem que quaisquer perguntas difíceis lhe sejam feitas. João Galamba, tal como a maioria dos nossos actuais governantes, está habituado a não ser investigado nem questionado a doer. Logo fica surpreendido, chocado, enraivecido e descontrolado quando lhe aparece pela frente uma jornalista heroica que o investiga e questiona. Sandra Felgueiras é um oásis de investigação jornalística, altamente efectiva e informativa, num deserto de várias TVs e jornais que quase nenhum caso contemporâneo investigam. 

Salvo outras honrosas e conhecidas excepções, uma parte significativa da nossa comunicação social só se atreve a “investigar” casos de possível corrupção governativa, ou esbanjamento gigantesco de fundos públicos, quando estes já estão prescritos. Regra geral, os “media” portugueses também só questionam políticos já depois destes estarem politicamente mortos. Muito do nosso jornalismo de “investigação” e de entrevista a governantes é, pois, uma grande secção de necrologia ao contrário. Esmeram-se a investigar e criticar defuntos. Como se diz em linguagem popular, só batem em mortos. Por isso, na cúpula do PS, onde tantos vivem da mentira, o único que os “media” ousam questionar por ser mentiroso é Sócrates, que já faleceu para a política, logo já não pode gastar os nossos impostos. Já fez o mal que tinha a fazer, mas deixou herdeiros a fazer igual ou pior.

Porque é que um prazer verem-se, regularmente, em Inglaterra, de onde escrevo, jornalistas corajosos, como Piers Morgan, Kay Burley, Andrew Marr ou Sophy Ridge, fazerem perguntas duras e incómodas aos actuais governantes do Reino Unido, apesar dos bons resultados destes, como, por exemplo, terem conseguido a maior taxa de vacinação da Europa. Mas é um tédio, igualmente regular, ver em Portugal jornalistas medrosos e subservientes a questionarem frouxamente os governantes portugueses, apesar dos maus resultados destes como, por exemplo, a propósito da maior taxa de desvios de vacinas para políticos e corporações.

Porque é que a maioria da nossa comunicação social elogia tanto e investiga tão pouco o nosso Governo? Não será decerto pelos resultados desta direcção do PS que, a governar o país há quase duas décadas, nos mantem estagnados nos últimos lugares económicos da Europa e a sermos ultrapassados por todos. Então porque se sentem tantos jornalistas obrigados apenas a louvar, sem nunca questionarem um tal Governo, com os piores resultados da Europa? Porque é que os principais jornais silenciam as vozes da sociedade civil qualificada que interroga o Governo e este tem, há décadas, sempre os mesmos bajuladores? Porque estão as TVs cheias quase só de comentadores favoráveis ao Governo, que mesmo perante os maiores escândalos só fazem reparos tíbios? Num país em que apenas 17 por cento dos eleitores registados votam no partido no poder, não há mercado para nenhuma crítica a esse partido? Só os 1.9 milhões de portugueses que votam no PS lêem jornais e ouvem TV? Os outros 11.1 milhões, dentro e fora de Portugal, que ignoram, desdenham ou se opõem à actual política não têm direito a representação? 

Não. A única consolação da vasta maioria dos portugueses é que ao ligarem as suas televisões e folhearem os jornais estão a ver não notícias, mas a história de Portugal sobre a corrupção de há décadas atrás. Veja-se o afinco com que o jornal Expresso “investigou” os escândalos do colapso financeiro do BES ou da queda de Isabel dos Santos. Só depois de tudo já ser tão óbvio que até foi o jornal “Guardian”, em Londres, o primeiro a noticiar os casos que se passavam em Lisboa. Veja-se o gáudio dos comediantes da rádio Renascença que, só agora, riem livremente e sem medo das mentiras de Sócrates.

Em Portugal, a maioria da imprensa e TV não vive para informar os seus leitores e telespectadores, pois está falida e vive de dívidas bancárias, da ajuda económica do Governo ou da publicidade paga pelo “lobby” da energia. Logo, em vez de informar há que elogiar o que lhes assegura a sobrevivência: a incompetência ou conivência de um Governo, útil para que bancos e “lobbies” da energia recebam milhões do Estado. 

Por exemplo, a comunicação social sentiu-se obrigada a elogiar superlativamente o nosso irrelevante Governo, não hesitando em escrever títulos empolgados sobre a recente cimeira europeia no Porto, classsificando-a de “Marco Histórico,” fazendo seus os autoelogios ridículos do próprio Costa no discurso de encerramento, sobre temas antigos, sem nenhuma originalidade ou contribuição portuguesa. Simples e tristemente, foram agora adiados para 2030 os objectivos europeus que já deviam ter sido atingidos pela Europa em 2020, como menos 15 milhões de pobres ou, agora, 78 por cento de empregados e 60 por cento de trabalhadores com formação anual. Portanto, na realidade, a cimeira do Porto foi um fracasso invisível em toda a Europa, que espelha bem a mediocridade deste Governo em tudo, incluindo a presidência europeia. Durante ou logo a seguir ao evento, a cimeira não foi destacada ou sequer mencionada num único grande órgão de comunicação social internacional, do “Financial Times” à BBC, do “Le Monde” à TVE, do “Der Spiegel” à RAI. No entanto, os elogios ao Governo abundaram por cá e ninguém questionou Costa se foi para este triste e apagado resultado, um dos poucos eventos presenciais da presidência portuguesa da Europa – onde muitos líderes europeus nem se dignaram a aparecer – que o Governo gastou milhões de euros dos nossos impostos, em centenas de viaturas luxuosas de alta cilindrada, milhares de fatos e camisas e até um estúdio privativo para a comunicação social. 

Por muito menos que isso, os cerca de 50 mil euros recentemente gastos na decoração da casa oficial do Primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, são questionados duramente pela imprensa inglesa, que quer saber se o dinheiro dos contribuintes é criteriosamente gasto ou não. Em Portugal os governantes PS podem esbanjar milhões atrás de milhões de fundos públicos que muita imprensa permanece subserviente, hirta e medrosa. Felizmente existem, além de Sandra Felgueiras, outras excepções a essa regra, como os excelentes jornalistas José Gomes Ferreira, Alexandra Borges, Ana Leal, muita da redacção do “Observador”, dos semanários “Sol” ou “Sábado” e deste jornal, O DIABO. Parabéns ao leitor por ler quem interroga o governo com liberdade de expressão. ■