Entre Paulo Freire e Manuel Ferreira Patrício (II)

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Tudo isto para concluir: “Na época contemporânea W. Dilthey compreendeu, talvez melhor do que qualquer outro filósofo, a pureza da concepção platónica da filosofia: a filosofia encontra a sua culminância na plena formação do homem, ou seja, na plenitude da entrega do homem a si próprio. A filosofia culmina, portanto, na antropagogia. Pela antropologia, o homem conhece-se a si mesmo; pela antropagogia, aperfeiçoa-se e cumpre-se no seu ser, à luz do conhecimento que tem de si mesmo./ Esta é uma ideia platónica. Platão continua a ser o lugar filosófico de todos os ‘regressos’. O ‘regresso’ que hoje se impõe é um regresso aberto e não totalitário ao grande filósofo de Atenas. Nos dois últimos milénios e meio numerosos têm sido, no fim de contas, os seus discípulos, mesmo quando explicitamente o renegam. Por outro lado, talvez seja preciso negá-lo em parte da letra, para o afirmar na plenitude do espírito. É que não poderá haver libertação sem liberdade, nem racionalidade universal assente no esmagamento das nacionalidades particulares e singulares” (ibid., pp. 155-156).

Ou seja, em suma: para Manuel Ferreira Patrício, a “pedagogia da libertação” prefigurada por Paulo Freire é demasiado curta, sobretudo por partir de uma grelha marxista em que os factores materiais e sociais se sobrepõem a todos os demais – em particular, os de ordem cultural.

Ora, na dialéctica freiriana do opressor e do oprimido, ignora-se que a cultura do opressor pode servir para nos elevarmos, sendo assim, em última instância, libertadora.

Apenas um exemplo: quando o Império Romano se estendeu à Península Ibérica, ele foi decerto “opressor”, como todos os Impérios.

Culturalmente, porém, o Império Romano promoveu um salto qualitativo, de que ainda hoje somos tributários.

Estulto seria hoje, por uma póstuma consciência de opressão, renegar todo esse legado. Manuel Ferreira Patrício, decerto, não o procurou fazer, bem pelo contrário, dada a primazia concedida à Cultura, como já tivemos a oportunidade de salientar: “Há pois uma absoluta coerência em Manuel Ferreira Patrício, na sua vida e no seu pensamento – a primazia dada à Cultura determina as suas posições quanto à Escola e à Educação, as suas posições filosóficas e, inclusivamente, as suas posições políticas: caso do seu assumido não-marxismo.” (in vol. V, p. 7).

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