Não nos interessamos muito por histórias alternativas – ainda que a realidade pudesse ter sido (quase) sempre diferente do que foi, o que mais importa para nós é o futuro que podemos construir a partir do nosso presente, em vez de imaginar um passado diverso. Julgamos igualmente que nem sempre a acção individual é decisiva. Muitas vezes, o contexto é de tal modo sobredeterminante que de pouco ou nada vale “remar contra a maré”. Nesses casos, fica “apenas” a heroicidade do acto. Na já quase milenar história de Portugal, houve decerto muitos momentos em que a acção individual foi decisiva para alterar o curso dos acontecimentos – e outros tantos em que de nada valeu “remar contra a maré”.
Um desses momentos terá sido todo o processo caótico da descolonização – cujas feridas, se em Portugal aparentemente sararam, se fazem ainda sentir, de forma mais ou menos tangível, nos outros países envolvidos. Porventura mais do que ninguém, Marcello Caetano sentiu essa incapacidade trágica de evitar o caos – sobredeterminado que estava todo o processo pelo contexto da “guerra fria”, muito mais do que por factores endógenos. Há meio século, o Ultramar Português foi apenas mais uma vítima da disputa entre os EUA e a URSS pela hegemonia global. Daí também toda a série de guerras civis resultantes desse caótico processo – que, em Timor-Leste, levou mesmo à ocupação do território pela Indonésia.
Sabemos que assim foi. Mas importa-nos sobretudo construir o melhor futuro possível a partir desse passado e deste presente. No caso, procurando sarar todas essas feridas, em prol de um real caminho de convergência e fraternidade entre todos os povos de língua portuguesa, o que será o melhor corolário da nossa história comum. Por vezes, porém, perguntamo-nos: se no lugar de Marcello Caetano estivesse Adriano Moreira, o processo poderia ter sido bem diferente, bem menos caótico? Ninguém, decerto, o poderá dizer. Nem o próprio pensará muito nisso – ele que também sempre tem estado sobretudo preocupado com o futuro. Adriano Moreira é, reconhecidamente, um dos portugueses que mais ama e melhor conhece a comunidade lusófona, à escala global. Nos cem anos de uma vida superiormente dedicada a Portugal e à Lusofonia, resta-nos congratulá-lo e procurar seguir o seu exemplo. ■
* A ler na sessão oficial das comemorações do centenário de Adriano Moreira: 6 de Setembro, a partir das 11h, no Pavilhão do Conhecimento (Lisboa).