dbDUARTE BRANQUINHO 

A campanha eleitoral do Partido Socialista foi de mal a pior. Depois dos cartazes que geraram paródia nas redes sociais na Internet, surgiram outros que descredibilizaram a propaganda socialista, provocaram polémica e até uma demissão.

Depois da chacota de que foi alvo o cartaz com uma mulher que retirava as nuvens negras fazendo aparecer um nascer do Sol com a mensagem “É tempo de confiança”, os socialistas optaram por uma campanha mais agressiva. Mas, uma vez afixados os novos cartazes, foram imediatamente questionados.

Um deles apresentava uma mulher que afirmava estar desempregada há cinco anos, sem qualquer subsídio ou apoio, e como ela estão mais 353.000. Ora, como muitos notaram, há cinco anos estava o PS no Governo. Mais, noutro cartaz, outra mulher, mais nova, dizia estar desempregada desde 2012 e que como ela estão mais 220.000. Novamente, houve quem visse aqui uma descida do desemprego durante o Governo da Coligação PSD/CDS. Mas o pior estava para vir.

Histórias mal contadas

Maria João Pinto, a mulher cuja fotografia aparece no cartaz que diz “Estou desempregada desde 2012, para o governo não existo”, afirmou ao “Observador”: “A história não é minha. Aquela afirmação é falsa”. Segundo o jornal digital, Maria João diz que quando tirou a fotografia prestava serviços à Junta de Freguesia de Arroios (PS) e que não deu autorização para que a sua cara ilustrasse os cartazes.

Exigiu que fossem retirados e até admitiu processar o PS por uso indevido de imagens. O PS respondeu afirmando: “Tratam-se de representações. Apesar de não faltarem exemplos de tantos e tantos casos semelhantes aos denunciados no cartaz, não iríamos expor assim as próprias pessoas e o seu sofrimento.

Portanto, embora os cartazes sejam todos relativos a casos reais, as pessoas são figurantes escolhidos e que aceitaram figurar nos cartazes.” Mas um mal nunca vem só… Ao que foi apurado pelo jornal citado, tanto a mulher que remete para o Governo de José Sócrates como o homem que diz ter sido obrigado a emigrar trabalham na Junta de Freguesia de Arroios.

O PSD/Arroios questionou a Presidente da Junta, Margarida Martins, sobre o caso, considerando que, a confirmar-se, representa uma “promiscuidade inaceitável” entre o que deveria ser “a função autárquica de uma Junta de Freguesia e a campanha eleitoral do Partido Socialista”.

Em declarações à Agência Lusa, Margarida Martins disse que se limitou a partilhar “os respectivos contactos dos colaboradores com a organização da campanha do Partido Socialista”, reconhecendo no entanto que falou “com alguns colaboradores da Junta de Freguesia no sentido de saber se queriam ou não integrar a campanha”, mas garantiu não ter participado mais no processo.

Mistério

Quem foi, afinal, o autor dos cartazes da discórdia? Mal a polémica começou, o PS garantiu que a campanha não era de Edson Athayde, mas não revelou o seu autor.

O “Diário de Notícias”, dias depois, avançou que o criativo que idealizou a campanha terá sido Vítor Tito, um publicitário do Porto. Algo que o próprio negou, dizendo que nunca teve qualquer contrato de colaboração ou de prestação de serviços com qualquer partido ou organização partidária. A autoria dos cartazes continua, assim, um verdadeiro mistério…

Sangue derramado, sangue novo

Com tamanha polémica era necessário sacrificar um responsável na praça pública. O papel coube a Ascenso Simões, que no passado domingo, dia 9, informou o líder dos socialistas, António Costa, de que se demite do cargo de director de campanha do Partido Socialista para as eleições legislativas.

Ascenso Simões disse que “quem é responsável por uma máquina deve assumir todas as falhas que ela demonstra, deve tirar ilações de tudo o que, publicamente, se reconhece como erro” e acrescentou que fica “agora mais livre para ser um simples militante que tudo vai fazer para que o PS se consagre como uma verdadeira força de progresso e de modernização da economia portuguesa”. Curiosamente, Ascenso Simões, que andou com José Sócrates na estrada, na campanha das legislativas de 2009, estava a preparar um livro sobre a campanha do antigo primeiro-ministro socialista, hoje detido em Évora. No início desta campanha teve que interromper esse trabalho, mas agora, como está “mais livre”, talvez possa retomá-lo.

Depois do sangue derramado, era necessário sangue novo e o PS anunciou prontamente um novo director de campanha. O substituto de Ascenso Simões é Duarte Cordeiro, que foi director de campanha de Manuel Alegre para as Presidenciais de 2011 e é actualmente vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

Confiança?

Depois de toda esta história verdadeiramente rocambolesca, o PS substituiu os cartazes polémicos por uns novos onde regressa o ‘slogan’ “É tempo de confiança”. Mas rapidamente surgiram novas paródias nas redes sociais, nomeadamente fazendo o trocadilho com “comfiança”, numa alusão a José Sócrates, detido no Estabelecimento Prisional de Évora. Brincadeiras à parte, se o PS quer ganhar eleições precisa, de facto, da confiança dos eleitores, mas não bastará seguramente apregoá-la em cartazes.