Labirinto de Mentiras

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Um brinde à verdade

PAULO FERRERO

Num “Labirinto de Mentiras” é naquilo em que se mete o jovem procurador Radmann, ao começar a desbravar, ingenuamente, a teia da inconveniente verdade dos factos sobre Auschwitz, primeiro, e, na vontade indómita, depois, em querer julgar de uma assentada todos os criminosos com responsabilidades directas no dito (a começar pelo Anjo da Morte), quando, meramente por acaso, fica a saber por jornalista ligado à causa dos ofendidos que, afinal, o campo de concentração mais terrivelmente famoso da Segunda Guerra Mundial não foi, afinal de contas, um campo de reeducação ou uma colónia de férias forçadas, mas um destino de extermínio humano organizado e implacável, e que toda a Alemanha, ou quase, o procurava esquecer, ou melhor, deitar para trás das costas, à época do filme, com a desculpa de não querer agravar ainda mais uma ferida profunda por sarar.

Este belíssimo e escorreito dramático do italiano Giulio Ricciarelli, rodado no pós-guerra alemão, durante o consulado Adenauer (o do milagre económico alemão), baseia-se em factos comprovadamente verídicos e é um filme sério, que não deixa lugar ao subjectivo, apesar de aqui e ali se deixar cair num certo academismo e numa estética exagerada (uma permanente e indisfarçável preocupação geométrica nos planos e na apuradíssima reconstituição de época – nos cenários, no guarda-roupa ou naquele fabuloso Opel Rekord…) mas é um filme de um rigor e de uma contenção tais, de diálogos e actores imaculados (Gert Voss é excepcional na figura do Procurador-Geral), e de uma narrativa sem escolhos e uma encenação montada a compasso (por vezes parece que Lang anda por ali…), que merece uma observação atenta e uma adesão generosa.

“Das Leben ist gut”, diz algures a personagem feminina central, depois de uma cena de amor, e é mesmo verdade.