O Mistério do Estado Islâmico

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JOÃO VAZ

No nosso exíguo mercado editorial este é o segundo título a sair sobre o fenómeno do Estado Islâmico. Sobre o anterior, já aqui se falou há umas semanas atrás. Sobre o actual, “O Mistério das Bandeiras Negras”, aqui ficam umas linhas.

Nuno Rogeiro há-de ficar para sempre na minha memória por ter dado a conhecer em Portugal os capacetes de titânio da unidade alfa do KGB. E isso não é pequeno pormenor, mas um entre muitos, alguns relevantes.

O gosto, esse, mantém-se, como se vê pela descrição detalhada do armamento utilizado pelas diferentes facções em conflito naquele que foi ou ainda é o território da Síria e do Iraque.

Quanto ao resto, é tudo uma questão de risco como nos diz o nosso autor. De desactualização, desde logo. Porque na hora em que esta obra foi para a gráfica já lá existiam personagens dadas como vivas que estariam mortas. E o número aumentou até o produto final nos chegar às mãos. Mas isso é algo com que têm de viver escritor e editor.

De qualquer modo, não é por essa questão relacionada com o tempo que deixaremos de prestar atenção à obra. Até porque a mesma comporta diversos motivos de interesse. Desde logo sobre a génese do fenómeno. Depois, sobre a base religiosa e ideológica do mesmo. A seguir, sobre o financiamento, os apoios, o recrutamento e toda uma série de elementos caracterizadores do Estado Islâmico.

Além disso, não se entra aqui pelo discurso tão frequente da desculpabilização. Do “não tem nada a ver com o islão”. Certo, fala-se na condenação lançada por alguns teólogos sobre o grupo (ou sobre algumas práticas do mesmo?), temos as habituais hipóteses sociológicas acerca das razões que movem tantos jovens “ocidentais” a aderir ao grupo mas não existe aqui o atirar de culpas para o liberalismo ou para a democracia representativa, como alguns gostam de fazer. E isso já é qualquer coisa.

Depois, encontramos informações relevantes sobre o papel da Turquia no meio disto tudo, sobre a desorientação norte-americana, sobre as rivalidades intra-jihadistas, sobre a posição de Portugal no assunto. Muita e boa informação, ainda por cima sintetizada – segundo a entrevista do autor ao “Expresso”, em edição recente, teríamos material para um volume com o dobro do tamanho.

No final, uma certeza: a coisa está para durar.

Não é um episódio passageiro. E, afinal, mostra o quê? O velho ressentimento? O desejo de ressurgimento? Uma exaltação momentânea? Uma negação desesperada da pós-modernidade? Nada disto? Aceitam-se sugestões.