Em debate: o assalto à praça de Brasília

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Lula juiz, júri e carrasco por Diogo Gil Gagean

O terceiro mandato de Lula da Silva vai ficar para sempre ligado à invasão que ocorreu no fim-de-semana passado em Brasília. Centenas de apoiantes de Jair Bolsonaro invadiram os três locais mais simbólicos da democracia brasileira, o Congresso, o Planalto e o Supremo Tribunal Federal, sem se perceber muito bem o que reclamavam além de acharem que as eleições tinham sido fraudulentas.

Claro que aquela direita brasileira mais “abrutalhada” acha que um resultado de 50.9% vs 49.1% foi manipulado, eu acredito que os resultados são reais e acredito também que se Bolsonaro tivesse ganho com este resultado a esquerda mundial imolava-se em praça pública a clamar “fraude!!!!”.

Infelizmente, o que estes energúmenos nunca vão entender é que este tipo de acções como a de Brasília e a de Washington prejudicam imenso o movimento da direita que quer combater esta esquerda “progressista” na mensagem, mas trotskista no pensamento na sua concepção de revolução permanente.

Movimentos como os de Bolsonaro, Trump, e em pequena escala em Portugal o Chega, nascem como contraponto a uma “elite” intelectual que se afastou completamente da realidade do povo. Estes académicos, comentadores e políticos querem dizer às pessoas o que devem pensar, o que devem sentir, comer, vestir, aceitar e repudiar. Dos factores que mais contribuem para o aparecimento destes fenómenos são a corrupção e o nepotismo, algo que vemos em abundância não só no Brasil, mas também em Portugal. Se ficamos chocados com Alexandra Reis, imaginem o que é pôr o Haddad na Fazenda. Deram as chaves do cofre ao ladrão.

As pessoas começam a ficar cansadas da impunidade que beneficia o sector político e alguns sectores sociais e do sentimento de impotência que nasce no âmago, juntam-se e destroem o trabalho que alguma direita anda a fazer há uns anos.

Julgo que estávamos todos, todas e todos
(inclusivo como o governo brasileiro) à espera do discurso de Lula da Silva após os acontecimentos do fim-de-semana. O homem, que sempre se gabou de ser um político muito mais experiente do que o seu antecessor, iria certamente dirigir palavras de união ao povo num país muito dividido. Infelizmente não foi isso que aconteceu.

Lula condenou os nazistas, estalinistas e os fascistas, mas perdoou os estalinistas instantaneamente duma forma pavloviana no seu discurso, o “lapsus linguae” foi rapidamente corrigido e não consta que tivesse havido estalinistas feridos.

Lula disparou em todas as direcções, das forças armadas ao povo. Já ditou a sentença aos envolvidos na invasão, substituindo-se aos tribunais brasileiros e fala-se em surdina que o ministério público brasileiro vai proceder ao arresto de bens de Bolsonaro e familiares, embora eles não tenham estado presentes no incidente ou sequer se saiba que são os autores morais do ataque.

Juiz, Júri e Carrasco é um papel que assenta como uma luva ao cleptocrata brasileiro.

Por cá a horda sabuja apressou-se a insultar todos os que no passado afirmaram que se absteriam numas eleições com os candidatos Lula e Jair. Como se confrontado com um boletim de voto onde estivessem os dois, um pirete bem desenhado não fosse o voto ideal.


Os “patriotas” por José Guilherme Oliveira

Os incidentes do último fim-de-semana, em Brasília, geraram espanto generalizado. Estes movimentos iliberais não são, de modo algum, um exclusivo do Brasil, mas aqui a indecência foi longe de mais.

Quem acompanha minimamente a situação política no Brasil, reconhecerá no Bolsonaro uma figura desprezível, asquerosa, um mimo do Donald Trump, de quem é uma má copia. Todo o seu trajecto político é feito de episódios, conflitos, questiúnculas, de atropelos e tropeções. A direita achou que poderia servir-se desta figura menor para fazer o trabalho sujo e impedir vitórias da esquerda. Aconteceu que o Bolsonarismo, qual seita religiosa, cresceu e tornou-se maior que o seu criador, que se viria a provar ser um cobarde, que perdidas as eleições, “pirou-se” para os EUA, deixando a sua turba órfã e à solta.

Ver aquelas pessoas, nas ruas e nas manifestações é um espectáculo triste e confrangedor, uma mistura de ignorância, com fanatismo religioso e psicopatia colectiva. Não se pode dizer que não estivesse latente que algo iria acontecer. Um bando de gente ensandecida, marionetes de outros poderes e poderosos, invadiu a Praça dos Três Poderes e destruiu tudo que apanhou pela frente, chegando a defecar empoleirados nas secretárias dos gabinetes, selvaticamente. Tudo em nome do bem, das pessoas do bem e da democracia e da liberdade!!!

Correu mal. Convém não esquecer que a direita, toda ela, além de se deleitar com as diatribes do “artista” e com as “bojardas” que debitava sistematicamente, nunca se distanciou sanitariamente. Isso aconteceu lá e também por cá. Por cá existe também uma direita recessa, trauliteira, radical, ainda tímida e camuflada, que está para lá do Chega, que simpatiza genuinamente com o energúmeno e o ia aplaudindo à distância. Quem nunca ouviu dizer que Bolsonaro e Lula eram a mesma coisa, procurando validar o “indecente”. Na verdade, não são sequer semelhantes. Do Lula da Silva pode-se discordar, até radicalmente, do Bolsonaro nem isso. Não se consegue contraditar um bárbaro.

Vencer a esquerda não é em si um valor.

A direita tem de entender que não precisa de embarcar neste estilo populista, com o selo do Steve Banon, que pretende destruir a democracia liberal, afrontando as suas instituições, para chegar ao poder. Precisamos de uma direita decente, capaz de apresentar projecto claro, alternativo. Este é o caminho.

Do Brasil espera-se firmeza, autoridade de Estado e que não haja impunidade, a pacificação virá a seguir.

P.S. – A verdade impõe que eu não ignore que toda a direita portuguesa, de forma mais ou menos firme, se manifestou contra a tentativa de golpe de estado Brasileiro.

P.P.S. – O Governo socialista tem vindo, de forma intensiva, a alimentar o caminho para o crescimento dos partidos antidemocráticos e radicais.

P.P.P.S. – Quem achava que o PS tinha o exclusivo dos “casos e casinhos” da descredibilização da política portuguesa, atente o Vice-Presidente da bancada parlamentar do PSD.