Ferrovia: Incompetência, ignorância ou falta de visão

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Os planos conhecidos do Governo de António Costa para a ferrovia têm sido criticados pelas associações empresariais, como a CIP e a AFIA, por não permitirem a ligação à rede espanhola que já leva vinte anos de modernização com a nova bitola UIC usada em toda a Europa, tornando Portugal uma ilha ferroviária.

Por sua vez, o Governo e o Ministro das Infraestruturas e Habitação têm afirmado que a linha em construção do Poceirão a Badajoz, de via única e bitola ibérica, resolverá o problema da ligação de Lisboa e de Sines à Europa, o que ninguém entende como será possível, dado que a nova rede espanhola de bitola UIC já está ligada a França, passando por Barcelona, Madrid, Valência e Sevilha, e em breve chegará ao porto de Algeciras e à Galiza. Desde 2011, todas as novas linhas em Espanha são projectadas para tráfego misto – passageiros e mercadorias – e as ligações a França são de tráfego misto. Sobre a ligação à Galiza, o Primeiro-Ministro António Costa já afirmou em Trás-os-Montes que a região era mais internacional do que Lisboa porque tinha a poucos quilómetros a via férrea espanhola. 

Na semana passada, o Ministro Pedro Nuno Santos fez uma intervenção sobre a ferrovia num almoço em Lisboa, a que fui assistir, como cerca de uma centena de outros interessados, nomeadamente empresários, para saberem o que verdadeiramente podem as exportações portuguesas esperar da ferrovia nas ligações à Europa. Infelizmente, o Ministro Pedro Nuno Santos falou do aeroporto, fez um rol de queixas relativamente aos Governos passados, falou sobre o seu orgulho em ser socialista, descreveu os sucessos do Governo e do seu Ministério, mas quanto às ligações ferroviárias à Europa, zero. Ou seja, permanece a dúvida sobre o futuro da ferrovia e sobre as suas ligações a Espanha e daí para França e Alemanha, que são os destinos principais das nossas exportações.

Ou seja, o Governo parece não ter uma estratégia conhecida para a economia e para a necessidade urgente de aumentar as exportações nacionais e minimiza a importância da logística, marítima e ferroviá-
ria, para esse fim, focando-se apenas na melhoria dos serviços ferroviários internos. O que faz, sem levar em conta a liberalização do mercado ferroviário na Europa e desconhecendo os grandes investimentos já feitos em Espanha em bitola UIC para passageiros e mercadorias, que o Governo nega mas não detalha, nomeadamente não informa que acordos existem com o país vizinho.

Como o Ministro referiu durante o almoço que eu publico textos n’O Diabo a dizer mal do Governo, será uma oportunidade para que o Governo clarifique de uma vez por todas o que pretende neste domínio, com datas, de forma a que os empresários portugueses preocupados com o futuro das ligações ferroviárias à Europa saibam com o que podem contar. Nomeadamente, porque é impossível que a ligação à Europa se possa fazer de forma competitiva através da bitola ibérica. Assim, será da maior utilidade que o ministro responda às perguntas seguintes:

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