O choque frontal entre Belém e S. Bento existe, mas António Costa prefere disfarçar.
Nos seus mais recentes avisos, o Presidente da República afastou qualquer possibilidade de eleições antecipadas e aconselhou “baixar a temperatura” e agir no quadro parlamentar que os portugueses escolheram, considerando que o início de legislatura não pode ter sabor de fim.
Na sessão de encerramento da conferência “Portugal? e agora?”, promovida pelo jornal ‘Público’ no âmbito das comemorações dos seus 30 anos, Marcelo fez um discurso com muitos avisos, quer para o Governo quer para os partidos da oposição, dirigindo-se também a outros sectores da sociedade.
“Não se julgue que alguém de meridiano bom senso possa recorrer, num intervalo de tempo em que isso será possível, ao voto popular antecipado a pretexto de indefinições estratégicas decorrentes de imprevisibilidade política num país que acabou de sair de eleições, que gere uma situação de âmbito global na saúde pública e tem uma presidência europeia pela frente já no primeiro semestre do ano que vem”, disse o PR.
Para o chefe de Estado, “o caminho não é esse”, deixando clara qual a sua ideia. “O caminho é outro: baixar a temperatura do ambiente vivido, resistir à tentação sistemática, venha de onde vier, poderes ou oposições, do aceno a crises políticas apelando a dissoluções, definir rumos minimamente estáveis e agir no quadro parlamentar que os portugueses escolheram”, defendeu. Marcelo Rebelo de Sousa foi peremptório ao afirmar que em Portugal se vive “no início da legislatura um tempo que não pode ter o sabor de fim de legislatura”.
Antes da quarentena
Mas já antes o Presidente tinha deixado outros avisos apelando à estabilidade política a propósito do Orçamento. No início de Janeiro, o PR tinha alertado que não havia margem para se pensar em crises políticas. “É óbvio que tem de haver estabilidade e não há sequer condições para estar a pensar em crises”, avisou então Marcelo Rebelo de Sousa, reforçando a mensagem de que neste intervalo “não é possível haver crise, porque não é possível haver dissolução e eleições, como poderia acontecer noutras circunstâncias, sem aprovação de Orçamento”.