A esquerda caviar nacional tem um casal real alma-gémea internacional na arte da indignação para proveito próprio. Tal como esses nossos políticos, os príncipes Harry e Meghan também enriquecem através da hipocrisia, mas dão ‘shows’ televisivos ainda mais inacreditáveis, uma proeza difícil. Estas duas pessoas reais privilegiadas são também os mentores do vazio ideológico e ético da nossa esquerda, que os imita não só na actuação teatral, mas nas causas que, alegadamente, dizem defender enquanto estão a enriquecer pessoalmente, sem nada de concreto resolver.
Já assistimos a entrevistas hilariantes de muitos políticos do PS, da JS e do BE a queixarem-se “indignados” com o que acontece aos contribuintes portugueses que perdem milhares de milhões de euros na banca, TAP, PPPs rodoviárias, companhias de energia, fundações ou empresas municipais geridas e reguladas por amigos e familiares desses políticos, ou até por eles próprios.
No entanto, mesmo tendo testemunhado os ganhos financeiros devido à atuação teatral de tais políticos, vimos, ainda mais incrédulos e, confessamos, mais entretidos, uma entrevista deste casal de príncipes britânico, agora a viverem nos EUA, onde descreveram, indignados, o seu “sofrimento” na Inglaterra.
Durante duas horas, com lágrima no olho e compungidos, os príncipes não pararam de se queixar, sem nunca agradecerem o facto de só no casamento terem recebido dos contribuintes britânicos, directa e indirectamente através da casa real, cerca de 40 milhões de euros. Receberam ainda 4 milhões de euros para a renovação da casa e outros milhões para sustentar o estilo de vida luxuoso, incluindo novos vestidos por dia no valor de milhares de euros.
Em troca, trabalharem, cumprindo funções reais como visitarem associações e obras de caridade, não era com eles. Foram-se embora para uma mansão na Califórnia, paga com os 10 milhões de euros que o príncipe herdou da mãe, enquanto não chegam ainda mais 150 milhões de euros em contratos já assinados com a Netflix, Spotify e outras empresas de entretinimento. Mesmo assim queixaram-se, ainda, indignados, de que agora, que estão na América sem trabalharem para o povo do Reino Unido, já não recebem mais dinheiro dos contribuintes britânicos para poderem cuidar do filho deles. Outra queixa que fizeram, indignados claro, perante uma audiência de 50 milhões, a falarem duas horas com a jornalista mais famosa do mundo, foi que não os deixavam falar.
A única queixa realmente grave que fizeram foi que eram discriminados, mesmo assim sem nada especificarem. Ora a discriminação é de facto um problema hediondo com raízes profundas no Reino Unido e nos EUA, logo teria ficado melhor aos príncipes focarem-se nos que sofrem mais que eles e menos em proveito próprio. Independentemente do que acreditarmos sobre estes príncipes privilegiados em particular, a discriminação em geral nos países de Língua inglesa prejudica, realmente, bastantes grupos étnicos e muitos imigrantes que estes países recebem devido à sua prosperidade económica. A situação é muito diferente da portuguesa, onde temos muito mais emigrantes que imigrantes e somos um dos países mais pobres da Europa. Logo aqui os problemas sérios são outros, não a discriminação britânica e americana.
No entanto, estas causas e outras vindas de Londres e da Califórnia, são cada vez também mais importadas e copiadas pela esquerda caviar portuguesa em proveito próprio. Os políticos membros ou nomeados pela direcção actual do PS, JS ou do Bloco de Esquerda, bebem a ideologia deste casal real, nunca falando de corrupção ou do desperdício de milhares de milhões de euros dos contribuintes por inacção deles no banco de Portugal ou incompetência deles na TAP.
Para disfarçar isso, que é relevante cá, adoram falar do “progressismo” de “esquerda” como a suposta luta contra a discriminação dos grupos desfavorecidos (ao lado dos quais os políticos não vivem e dos quais desviam vacinas primeiro para si), eutanásia, linguagem neutra e inclusiva ou derrube de estátuas.
Há muitos exemplos: Francisco Assis, do CES, quer traduzir um manual de Manchester do “politicamente correcto” em vez de resolver os problemas económicos e sociais portugueses. Francisco Louçã, do Banco de Portugal, adora fazer ‘twitters’ de suposta discriminação de atletas, sem originalidade nem relevância para Portugal. O seu ‘mini-me’ na ideologia “muito à esquerda” e esbanjamento do dinheiro público, Pedro Nuno Santos, da TAP, também afirma ser progressista. Ascenso Simões, que foi responsável e regulador de tudo e mais alguma coisa num Estado economicamente estagnado há 20 anos, galvaniza-se a destruir as estátuas dos maiores navegadores nacionais, um tema típico da discriminação inglesa. As irmãs Mortágua não param de chorar lágrimas de crocodilo pelo que o Espírito Santo Salgado faz aos contribuintes ou outros oprimidos e discriminados, mas através do suporte delas ao governo PS alimentam-no e isentam-no da justiça. Miguel Costa Matos, da JS, diz cínica e hipocritamente que o problema de Sócrates não era esbanjar ou desviar o dinheiro do Estado, exactamente como o PS actual faz, mas uma vítima ideológica de não ser suficientemente de “esquerda” nem “progressista,” ou seja, não ser pelos discriminados. Ora Sócrates também insistia, mais que tudo, em que estava no governo para servir discriminados e não em proveito próprio.
Sem surpresas, a elite política americana e inglesa de esquerda caviar que vive dos impostos, geralmente desinteressada do sofrimento da classe média ocidental sempre a ser carregada com mais impostos e taxas para pagar mais a “vítimas” como estes príncipes, veio logo dizer que era uma prova de grande “coragem” o casal multimilionário ultra-privilegiado a viver dos contribuintes declarar o quanto “sofriam” por viverem à grande e à francesa dos contribuintes.
Curiosamente, tais elites raramente ou nunca falam do sacrifício da classe média ocidental que paga a festa dos príncipes britânicos ou dos políticos portugueses. Acham-se todos no direito de viver dos contribuintes sem prestar o serviço para o qual são muito bem pagos publicamente, no caso de Meghan, andarem ao serviço da coroa britânica ajudando instituições sociais em vez de na praia e ao sol na Califórnia. Também os políticos portugueses desta esquerda caviar, em vez de nos apresentarem resultados, por exemplo na TAP ou Banco de Portugal, causam aí ou na energia hemorragias de dezenas de milhares de milhões de euros aos contribuintes, devido à falta de ética ou competência; mas mesmo assim acham-se todos no direito de receber mais privilégios dos contribuintes, sem cumprirem deveres ou apresentarem resultados mínimos para o público. ■